271Naquele dia,
o Senhor castigará com a sua espada,
pesada, grande e bem afiada,
o monstro Leviatã27,1 Monstro Leviatã. Monstro marinho lendário; aparece aqui como símbolo das nações que oprimem Israel. Ver Jb 3,8; Sl 74,13–14; 104,26., serpente má e tortuosa,
e acabará por matar esse dragão marinho.
2Naquele dia,
entoem um cântico sobre a vinha deliciosa:
3«Eu, o Senhor, sou o seu guarda;
rego-a continuamente
e guardo-a dia e noite,
para impedir qualquer assalto.
4Não me aborreço mais com ela.
Mas se nela crescerem silvas e cardos,
dar-lhes-ei guerra aberta
para os queimar totalmente,
5a menos que se ponham sob a minha proteção,
e façam as pazes comigo,
e estejam de bem comigo.»
6Dias virão, em que Jacob deitará novas raízes;
Israel produzirá botões e flores,
enchendo o mundo com os seus frutos.
7Porventura, o Senhor feriu-os
como fez com aqueles que os feriam?
Ou matou-os como fez com os que os matavam?
8Apenas os castigou com o exílio
e os expulsou, com o seu sopro violento,
num dia de vento leste.
9Assim se expiará a maldade de Jacob,
e o resultado do perdão da sua culpa será o seguinte:
as pedras dos altares pagãos serão pulverizadas,
como acontece com as pedras de cal,
e não mais se levantarão
nem os símbolos da deusa Achera27,9 Sobre os símbolos tradicionais da deusa da fertilidade, Achera, ver 17,8.
nem as imagens dedicadas ao Sol.
10A cidade fortificada ficou sem ninguém,
desabitada e abandonada como um deserto.
Nela pastam os vitelos,
nela se deitam e comem os seus ramos.
11Quando os ramos estão secos, partem-se
e vêm as mulheres e queimam-nos.
Realmente esta gente é de pouco entendimento,
e, por isso, o seu Criador já não tem pena,
aquele que os formou não se compadece deles.
12Naquele dia,
o Senhor debulhará as espigas
desde o Eufrates até à ribeira do Egito27,12 Ver Gn 15,18; 2 Rs 24,7; Nm 34,5.;
mas vós, israelitas, sereis apanhados um a um.
13Naquele dia,
o Senhor tocará a grande trombeta27,13 Na Bíblia, o toque da trombeta serve para: 1. Chamar as tropas ao combate (Is 18,3); 2. Convocar a assembleia (Ex 19,16; 20,18; Lv 25,9; Nm 12,2.10; 2 Sm 6,15; 1 Rs 1,34–41; Sl 47,6; 150,3); 3. Convocar o juízo final (Jl 2,1; Sf 1,16; Mt 24,31; Ap 11,15).,
e virão os dispersos da terra da Assíria
e os que andavam perdidos no Egito.
Virão prostrar-se diante do Senhor,
na santa montanha, em Jerusalém.
281Ai da Samaria, coroa orgulhosa dos bêbedos de Efraim!
Dominando um vale tão fértil,
a sua beleza gloriosa não passa duma flor caduca
na cabeça de gente totalmente embriagada.
2Eis que se aproxima, por ordem do Senhor,
uma potência forte e robusta,
como um turbilhão de granizo e tempestade destruidora,
como uma tromba de água caudalosa que tudo destrói;
com a sua mão põe tudo por terra.
3A coroa soberba dos bêbedos de Efraim
será pisada com os pés.
4Ela que domina com a sua beleza o vale muito fértil
não passará duma flor caduca.
Será como um figo amadurecido antes do verão:
o primeiro que o vê, logo o apanha e o come.
5Virá o dia em que o Senhor do Universo
será a coroa esplêndida e o diadema glorioso
dos sobreviventes do seu povo.
6Inspirará a justiça aos que presidem nos tribunais
e dará valentia aos que repelem o inimigo,
diante das portas da cidade.
7Vejam como o vinho e as bebidas fortes
desnorteiam e fazem cambalear as pessoas:
sacerdotes e profetas ficam tontos e cambaleiam por causa delas.
As bebidas alcoólicas fazem-nos desnortear,
veem as coisas de maneira confusa
e não conseguem falar com clareza.
8As suas mesas estão todas cobertas de vómitos
e não há um lugar sem porcaria.
9Eles perguntam: «A quem é que este quer ensinar?
A quem é que ele quer dar a lição?
A crianças recém-desmamadas?
A bebés que acabaram o período da amamentação?»
10Ora ouçam:
«tsav latsav, tsav latsav
kav lakav, kav lakav,
menino aqui, menino ali28,10 A frase hebraica dá mais importância à sonoridade das palavras do que ao seu significado. Traduções possíveis: letra por letra, sílaba por sílaba, palavra por palavra, ou: ordem sobre ordem, regra sobre regra, um pouco por aqui, um pouco por ali (menino aqui, menino ali). A frase parece aludir a um exercício escolar para principiantes. Os sacerdotes e os profetas fazem pouco de Isaías comparando-o a um professor de crianças principiantes..»
11Pois bem, é com uma linguagem balbuciante,
com uma linguagem estranha
que o Senhor vai falar a este povo.
12Ele já lhes tinha dito:
«Nisto consiste o repouso:
Dai descanso aos que estão cansados.
Nisto consiste o descanso.»
Mas eles não quiseram obedecer.
13Então o Senhor fala-lhes de modo ininteligível:
«tsav latsav, tsav latsav
kav lakav, kav lakav,
menino aqui, menino ali.»
Por isso, quando caminharem, hão de cair de costas;
quebrarão os ossos e serão apanhados na rede.
14Escutem, pois, a palavra do Senhor, ó gente insolente
que governais este povo de Jerusalém.
15Vocês dizem: «Concluímos uma aliança com a morte,
um pacto com o mundo dos mortos;
por isso, a catástrofe passará sem nos apanhar
porque temos a mentira por refúgio
e o engano por esconderijo.»
16Eis, então, o que declara o Senhor Deus:
«Vou colocar em Sião uma pedra de fundação28,16 Pedra de fundação. Ver Sl 118,22; Zc 4,7; Mt 21,42; Rm 9,33; 10,11; 1 Pe 2,6.
para os pôr à prova.
Será uma pedra preciosa, angular, de cimento firme.
Quem nela tiver confiança não ficará desiludido.
17Usarei o direito como cordel de medir
e a justiça como nível.»
Mas o granizo arrasará o vosso refúgio de mentira
e as águas torrenciais arrastarão o vosso abrigo.
18O vosso pacto com a morte será desfeito,
a vossa aliança com o mundo dos mortos não durará.
Quando a catástrofe passar,
sereis por ela esmagados.
19Cada manhã, cada dia e cada noite,
sempre que ela passar, há de apanhar-vos.
Basta que se fale nela, para ficardes aterrados.
20Como diz o provérbio,
o leito é muito curto para alguém se deitar
e a manta muito estreita para poder agasalhar.
21O Senhor levantar-se-á como no monte Peracim28,21 Monte Peracim. Lugar de uma vitória contra os filisteus. Ver 2 Sm 5,20; 1 Cr 14,11. Guibeon. Outra vitória de David contra os filisteus. Ver 1 Cr 14,16; cf. também Js 10,1–15.
e mostrar-se-á zangado como no vale de Guibeon,
para realizar a sua obra,
para fazer o seu trabalho,
uma obra extraordinária e um trabalho inaudito.
22Assim pois, deixem-se de insolências,
para que não se apertem mais as vossas cadeias,
pois soube da parte do Senhor, Deus do Universo,
que ele decidiu destruir todo o país.
23Escutem-me bem e prestem atenção!
Ouçam o que tenho para vos dizer.
24Porventura o lavrador que vai semear
passa todo o tempo a arar e a abrir regos na terra?
25Não! Depois de ter preparado a terra,
ele semeia os grãos de nigela e depois os de cominho,
semeia o trigo, o milho miúdo e a cevada,
nos regos convenientes, e o trigo duro nas bordas.
26Assim o instrui o seu Deus
e lhe ensina as regras a seguir.
27Não se debulha a nigela com o trilho de ferro,
nem as rodas do carro devem passar sobre o cominho.
A nigela deve ser sacudida com uma vara
e o cominho com um pau.
28O trigo tem que ser debulhado,
mas sem ser triturado em demasia.
As rodas do carro põem-se em movimento,
mas de modo a não esmagar o grão.
29Este proceder vem do Senhor do Universo,
que demonstra como é admirável o seu plano
e como é grande a sua eficiência.
291Ai de Ariel! Ai de Ariel29,1 Ariel. Palavra de difícil tradução. Indica provavelmente a parte mais alta do altar onde eram consumadas as vítimas oferecidas em sacrifício. Ver Ez 43,15–16; 29,2. Neste texto designa a cidade de Jerusalém e o mesmo acontece no v. 7.,
a cidade que David cercou!
Podem manter o ciclo das festas,
ano após ano, ou mesmo acrescentá-lo!
2Mas virá o tempo em que eu, o Senhor te castigarei,
e então haverá prantos e gemidos.
Serás para mim como o antigo Ariel.
3Vou montar acampamento à tua volta;
cercar-te-ei de trincheiras
e levantarei baluartes contra ti.
4Cairás tão baixo que a tua voz
parece vir das profundezas da terra,
a tua palavra mal se percebe debaixo do chão.
Será como a voz dum fantasma saído da terra,
cuja mensagem mal se percebe do fundo da cova.
5A multidão dos teus inimigos
será como uma nuvem de poeira,
e a multidão dos teus agressores
como uma nuvem de flocos de palha.
Mas logo a seguir, de imprevisto,
6o Senhor do Universo virá em teu auxílio,
por meio duma grande trovoada,
tremores de terra e grande tumulto,
com furacões, vendavais e chamas devoradoras.
7A multidão dos povos que te combatia, Ariel,
os que te atacavam, assediavam e sitiavam,
desapareceram como se fosse um sonho
ou como uma visão na noite29,7 Alusão provável ao cerco falhado de Jerusalém pelo exército assírio em 701 a.C. Ver os cap. 36—37 e cf. 31,4–5..
8Acontecerá à multidão das nações que lutam contra Sião
o que acontece ao homem esfomeado,
que sonha estar a comer,
mas acorda de estômago vazio,
ou ao homem cheio de sede,
que sonha estar a beber,
mas acorda de garganta seca.
9Pasmem, fiquem espantados,
fiquem cegos, deixem de ver;
embriaguem-se, sem ser de vinho,
cambaleando, sem ter bebido.
10Foi o Senhor que vos mergulhou
num estado profundo de sonolência:
fechou os vossos olhos, isto é, os profetas,
e cobriu as vossas cabeças, isto é, os videntes.
11A revelação destes acontecimentos é para vós como o texto dum livro selado. Entregam-no a alguém que saiba ler e pedem-lhe: «Lê-o, por favor!» Mas ele responde: «Não posso, porque está selado!» 12Então entregam-no a alguém que não sabe ler, e pedem-lhe: «Lê tu, por favor», mas ele responde: «Não sei ler.»
13Diz o Senhor:
«Este povo aproxima-se de mim só com palavras,
honra-me apenas com os lábios,
pois o seu coração está longe de mim.
O culto que me tributam
não passa dum hábito ou duma tradição humana29,13 Este versículo é citado de maneira livre em Mt 15,8–9; Mc 7,6–7..
14Por isso, vou continuar
a espantá-los com os meus prodígios:
fracassará a sabedoria dos seus sábios,
e será confundida a competência dos seus expertos29,14 Em 1 Co 1,19 Paulo cita este versículo segundo a antiga tradução grega..»
15Ai daqueles que trabalham em segredo,
que ocultam ao Senhor os seus planos
e planeiam as suas jogadas na sombra
e dizem: «Quem é que nos pode ver?
Quem é que vai saber disto?»
16Que insensatez a vossa,
pôr no mesmo plano o barro e o oleiro!
Pode o objeto dizer ao que o fabricou:
«Não foste tu que me fizeste?»
Ou pode o vaso dizer do oleiro:
«Ele não entende nada disto!»
17Dentro de muito pouco tempo, a montanha do Líbano
transformar-se-á num pomar
e esse pomar será como uma floresta.
18Naquele dia,
os surdos ouvirão o que diz o livro;
e, livres de escuridão e trevas,
os cegos ficarão a ver.
19Os humildes voltarão a alegrar-se no Senhor,
e os pobres da terra exultarão no Santo de Israel.
20Será o fim do tirano e o extermínio dos insolentes,
e serão aniquilados todos os que buscam a maldade:
21os que acusam de crime os inocentes,
os que subornam os juízes
e atiram os homens para os calabouços.
22Por isso, o Senhor que resgatou Abraão,
assim fala aos descendentes de Jacob:
«O povo de Jacob nunca mais será humilhado,
a sua cara nunca mais ficará envergonhada29,22 Ou: Por isso, o Senhor, o Deus de Jacob e dos seus descendentes, o salvador de Abraão..
23Quando eles ou os seus filhos virem
o que eu vou fazer por eles,
hão de reconhecer quem eu sou,
eu, o Deus santo de Jacob;
hão de tremer diante de mim, o Deus de Israel.
24Os espíritos desencaminhados compreenderão então
e os que protestavam, aceitarão o ensino.»