51Quero cantar para o meu melhor amigo
o canto que ele dedicou à sua vinha.
Sobre uma colina verdejante,
tinha o meu amigo uma vinha5,1 Vinha. Símbolo de Israel. Ver Is 3,14; 27,2–5; Jr 2,21; 5,10; 6,9; 12,10; Ez 15,1–8; 17,3–10; 19,10–14; Os 10,1; Sl 80,9–19; cf. Mt 21,33–43; Jo 15,1–7..
2Remexeu a terra, limpou-a das pedras,
e depois plantou-a do melhor bacelo.
No meio construiu uma torre de guarda
e fez lá também um lagar de pedra.
Esperava que ela lhe desse boas uvas,
mas só deu uvas amargas.
3E agora, habitantes de Jerusalém e gente de Judá,
digam lá quem é que tem a culpa:
sou eu ou é a minha vinha?
4Poderia eu fazer mais pela minha vinha,
depois de tudo o que eu fiz?
Por que é que então só deu uvas amargas,
quando eu esperava que desse uvas boas?
5Pois bem, vou dizer-vos
o que penso fazer à minha vinha:
vou desfazer-lhe a sebe, para que seja destruída,
e fazer uma brecha no muro, para que seja calcada.
6Vai ficar completamente abandonada,
pois nem será podada nem cavada.
Então os espinhos e a erva daninha hão de crescer,
e proibirei as nuvens
que derramem chuva sobre ela.
7A vinha do Senhor, o Todo-Poderoso,
sois vós, israelitas;
e a sua terra preferida
sois vós, gente de Judá.
O Senhor esperava de vós honestidade,
mas só há crueldade;
esperava justiça,
mas só há gritos de injustiça5,7 A última frase do v. 7 é um jogo de assonâncias de quatro palavras hebraicas com som semelhante e sentidos opostos..
8Ai de vós, que arranjais casas e mais casas,
e que comprais campos e mais campos,
até se tornarem senhores absolutos
de todos os lugares do país.
9Mas eu ouvi o Senhor todo-poderoso a dizer:
«Muitas casas serão destruídas,
e embora sejam grandes e belas
ninguém as habitará.
10Três hectares de vinha
não darão mais que um pequeno barril de vinho,
e dez medidas de semente
só produzirão uma.»
11Ai daqueles que se levantam cedinho,
para logo se embriagarem,
e até altas horas da noite
se aquecem com o vinho.
12Embebedam-se ao som das harpas e da lira,
dos tamborins e das flautas.
Por isso, não reparam nas obras do Senhor,
nem veem o que as suas mãos realizam.
13Por isso, o meu povo será deportado,
porque não compreende nada.
Os seus nobres vão morrer de fome
e a gente simples vai morrer de sede.
14Eis que o abismo da morte alargou as suas goelas
e abriu a sua boca enorme.
Os nobres e o povo simples para lá resvalam
entre tumultos e festejos.
15Toda a gente terá de se dobrar e humilhar,
e os arrogantes terão de inclinar-se.
16O Senhor do Universo será vitorioso,
o Deus santo mostrará a sua santidade
por este julgamento e por esta justiça.
17Os cordeiros pastarão nas ruínas da cidade
como se fosse nos seus prados,
e os cabritos de engorda
procurarão aí a sua comida.
18Ai dos que puxam a culpa com as cordas da maldade,
e o pecado com sogas de carro de bois.
19Eles dizem: «Que o Senhor se despache, sem demora,
para podermos ver a sua obra:
que o plano do Santo de Israel aconteça rapidamente,
para o podermos comprovar.»
20Ai dos que chamam ao mal, bem e ao bem, mal,
que tratam as trevas como luz e a luz como trevas,
que têm o amargo por doce e o doce por amargo5,20 Sobre a inversão de valores, ver Am 5,7; Mq 3,2; Pv 17,15..
21Ai dos que se tomam por sábios
e pensam ser inteligentes!
22Ai dos valentes a beber vinho
e dos espertos em preparar bebidas fortes.
23Eles subornam o culpado em troca dum presente,
e recusam ao inocente a sua justiça.
24Por isso, como a língua de fogo consome o restolho
e a palha é devorada pela chama,
as suas raízes ficarão podres
e os seus rebentos voarão como o pó fino.
É que eles rejeitaram o ensino do Senhor do Universo,
e desprezaram a palavra do Santo de Israel.
25Por isso, o Senhor se volta, irado, contra o seu povo
e estende a mão para o ferir.
Tremem os montes;
os cadáveres das vítimas
jazem nas ruas, como se fosse estrume.
Mas ainda assim, a cólera do Senhor não se aplaca,
e a sua mão continua ameaçadora.
26Ele levantará um estandarte
para chamar uma nação distante5,26 No hebraico: as nações distantes. Trata-se com certeza da Assíria, que já começara a ameaçar a Palestina.;
vai assobiar-lhe para os confins da terra.
E eis que ela se apressa e chega rapidamente.
27Nenhum se sente cansado nem coxo;
nenhum cabeceia de sono, nem dorme;
nenhum desaperta o seu cinto,
nem desata a correia das sandálias.
28As suas flechas estão aguçadas
e todos os arcos bem puxados;
os cascos dos seus cavalos são duros como pedra,
e as rodas dos carros parecem um turbilhão.
29Mais parece o rugido duma leoa
junto com o rugido das suas crias.
Aos gritos, eles agarram a presa e seguram-na bem
e ninguém lha consegue tirar.
30Naquele dia,
o rugido do inimigo contra este país
será como o rugir do mar.
Olharão para a terra,
mas só haverá trevas espessas;
as nuvens sombrias obscurecem a luz do dia.
61No ano em que morreu o rei Uzias6,1 A morte do rei Uzias deu-se provavelmente no ano 740 a.C. Ver 2 Rs 15,7; 2 Cr 26,23. tive uma visão em que vi o Senhor sentado num trono muito alto. A cauda do seu manto enchia o templo. 2Havia serafins6,2 Serafins. Etimologicamente significa “seres semelhantes ao fogo”. junto dele, para o servirem. Cada um tinha seis asas: com duas cobriam a cara, com duas cobriam o corpo e com duas voavam. 3E clamavam uns para os outros:
«Santo, Santo, Santo
é o Senhor do Universo!
Toda a terra está cheia da sua glória6,3 Isaías é por excelência o profeta da santidade de Deus. Ver 1,4; 10,17; 40,25; 57,15..»
4A voz deles fazia tremer as portas nos gonzos e o templo encheu-se de fumo. 5Então eu disse:
«Ai de mim, estou perdido6,5 Ou: estou reduzido ao silêncio. Segundo a mentalidade bíblica de então, quem visse a Deus morria. Ver Ex 3,6; 33,20; Jz 6,22; 13,22; 1 Rs 19,13.!
Sou um homem de lábios impuros,
que vive no meio dum povo de lábios impuros,
e vi com os meus olhos o rei, o Senhor do Universo.»
6Voou então para mim um dos serafins com uma brasa na mão que tinha tirado do altar com uma tenaz. 7Com ela, tocou-me na boca e disse:
«Olha bem! Isto tocou os teus lábios.
A tua culpa desapareceu,
o teu pecado fica perdoado.»
8Então ouvi a voz do Senhor a perguntar:
«Quem vou enviar?
Quem irá por nós?»
Eu respondi: «Aqui estou eu! Envia-me a mim.»
9Ele retomou a palavra:
«Vai dizer a este povo:
Ouçam com os vossos ouvidos, que não entendereis;
vejam com os vossos olhos, que não compreendereis.
10Torna o coração deste povo insensível,
endurece-lhe os ouvidos e cega-lhe os olhos:
que os seus olhos não vejam,
que os seus ouvidos não ouçam,
que o seu coração não entenda,
para que não se voltem para mim e fiquem curados6,10 Ver Mt 13,14–15; Mc 4,12; Lc 8,10; Jo 12,40; At 28,26–27..»
11Então eu perguntei:
«Até quando, Senhor?»
Ele respondeu-me:
«Até que as cidades fiquem devastadas e desabitadas,
as casas sem gente e os campos como desertos.
12O Senhor mandará para longe os homens,
e muitas terras do país ficarão abandonadas.
13Se ainda ficar uma décima parte da população,
também esses serão arrasados.
Serão como o carvalho ou o terebinto
que apenas deitam um rebento quando são cortados.
Mas desse rebento crescerá de novo o povo de Deus.»
71No tempo em que Acaz, filho de Jotam e neto de Uzias, era rei de Judá, aconteceu que o rei da Síria, chamado Recin e o rei de Israel, chamado Peca, que era filho de Remalias, vieram atacar a cidade de Jerusalém. Mas não a conseguiram conquistar7,1 Guerra siro-efraimita. Ver 2 Rs 16,5; 2 Cr 28,5–6 e a Introdução a Isaías..
2Acaz e a sua corte foram informados de que os arameus tinham acampado em Efraim. O rei e o seu povo, perante a notícia, ficaram com o coração em sobressalto e agitados, como as árvores da floresta pelo vento.
3O Senhor disse então a Isaías: «Vai ter com o rei Acaz e leva contigo o teu filho Chear-Jachub7,3 Os filhos de Isaías têm nomes simbólicos. Chear-Jachub significa “um resto há de voltar”. Ver Is 10,21 e 4,3.. Ele encontra-se no extremo do canal da piscina superior, na direção da calçada do Lavadouro7,3 Calçada do Lavadouro. Ver 2 Rs 18,17. 4E dir-lhe-ás: “Está atento e tem calma. Não tenhas medo nem te acobardes, por causa da cólera de Recin, o arameu, e do filho de Remalias. Não são mais que dois tições fumegantes. 5De facto, a Síria, Peca e as tropas de Efraim resolveram acabar contigo, pois disseram: 6Avancemos contra Judá, vamos sitiá-la, obrigá-la a render-se a nós e instalemos como rei o filho de Tabiel7,6 Na guerra siro-efraimita, o filho de Tabiel seria um dirigente político de origem síria..”
7Mas eis o que diz o Senhor Deus:
“Tal coisa não acontecerá:
8Damasco é a capital da Síria,
e Recin é quem manda em Damasco.
Daqui a sessenta e cinco anos
Efraim deixará de ser um povo.
9Samaria é a capital de Efraim
e Peca, o filho de Remalias, só manda em Samaria.
Se não acreditarem, não estarão seguros!”»
10O Senhor mandou Isaías levar outra mensagem a Acaz: 11«Pede ao Senhor, teu Deus, um sinal, venha ele do fundo do abismo ou do alto do céu.»
12Mas Acaz respondeu: «Não farei tal coisa, não quero provocar o Senhor.»
13Isaías disse-lhe então: «Ouve-me bem, herdeiro da dinastia de David7,13 Expressão alusiva à promessa de 2 Sm 5,5–16.! Não vos basta cansarem a paciência dos homens, para cansarem também agora a paciência do meu Deus? 14Pois bem, é o próprio Senhor que vos vai dar um sinal: a jovem mulher7,14 Alusão provável à jovem mulher de Acaz, futura mãe do rei Ezequias. A antiga tradução grega usa a palavra virgem que será retomada em Mt 1,23. está grávida e vai dar à luz um filho e pôr-lhe-á o nome de Emanuel7,14 Emanuel significa “Deus connosco”. Nome coletivo para indicar que Deus não abandona o seu povo. Ver 8,8.10; 41,10.. 15Comerá requeijão e mel, até chegar à idade de saber rejeitar o mal e escolher o bem. 16Mas antes que a criança saiba rejeitar o mal e escolher o bem, o território dos dois reis que tu tanto temes será abandonado pelos seus habitantes.»
17«O Senhor fará vir para ti, para o teu povo e para a tua dinastia dias tais como não houve desde que Efraim se separou de Judá. É a invasão do rei da Assíria.
18Vai chegar o dia em que o Senhor,
com um assobio, fará vir as moscas
dos confins do delta do Egito
e as abelhas da terra da Assíria.
19Virão e pousarão todas juntas
nos vales escarpados e nas fendas das rochas,
em todos os matos e em todos os bebedouros.
20Num destes dias,
o Senhor alugará uma navalha
do outro lado do rio Eufrates
isto é, o rei da Assíria,
e rapará a vossa cabeça,
a vossa barba e todos os pelos do vosso corpo7,20 A cabeça rapada e a barba rapada eram sinais de desonra. Ver 2 Sm 10,4–5..
21Nesses tempos,
cada um criará uma vaca e duas ovelhas;
22haverá tão grande abundância de leite
que a alimentação será de requeijão.
Todos os que ficarem no país
hão de comer requeijão e mel.
23Nesses tempos,
uma vinha com mil cepas
no valor de mil moedas de prata,
produzirá silvas e cardos.
24Só se poderá entrar no país com arcos e flechas,
porque estará coberto de silvas e cardos.
25As colinas que antes eram cultivadas à enxada
e onde não havia perigo de alastrarem silvas e cardos,
apenas servirão para pasto dos bois,
para serem pisadas pelos carneiros7,25 Ou: Nas colinas, antes cultivadas à enxada, haverá tantos espinhos e cardos que ninguém poderá lá entrar..»