251Bildad de Chua respondeu, dizendo:
2«Deus é soberano e temível,
lá do céu, faz reinar a paz.
3Haverá maneira de contar os seus servidores?
E sobre quem é que não brilha a sua luz?
4Um homem não consegue ter razão contra Deus,
um simples mortal nunca sai inocente.
5Até a Lua se apresenta sem luz
e as estrelas perdem brilho diante dele,
6quanto mais o homem, criatura insignificante,
que não passa de um simples verme!»
261Job respondeu, dizendo:
2«Que boa maneira de ajudar a quem está sem forças,
de socorrer quem não consegue erguer os braços!
3Que maneira de aconselhar um ignorante,
instruindo-o com tanta habilidade!
4Quem é que te inspirou essas palavras?
Em nome de quem estiveste a falar?
5Na terra da escuridão, todos se contorcem,
treme o oceano e tudo o que nele existe.
6O abismo abre-se diante de Deus,
a terra da destruição aparece a descoberto.
7Deus estendeu a abóbada celeste sobre o vazio
e suspendeu a terra sobre o nada.
8Encerrou as águas dentro das nuvens,
sem que estas rebentem com o peso.
9Encobriu com uma nuvem o seu trono,
para não ser visto por ninguém.
10Traçou um círculo à volta do mar,
no limite entre a luz e as trevas.
11Tremem as colunas que sustentam o céu26,11 No pensamento oriental antigo, as montanhas do extremo são as colunas que sustentam o céu.,
assustadas com o seu bramido.
12Com o seu poder acalmou o mar,
com a sua inteligência desfez o caos26,12 Literalmente: o monstro Raab..
13Com o seu sopro varreu o céu,
com a sua mão matou a serpente veloz26,13 Alusão a vários temas das mitologias orientais da criação..
14Mas isto é só uma parte das suas obras,
um eco de tudo o que se pode contar dele.
Quem será capaz de compreender
a grandeza enorme dos seus feitos?»
271E Job continuou o seu discurso, desta maneira:
2«Juro por Deus, o Todo-Poderoso,
que se nega a fazer-me justiça
e me enche de amargura!
3Juro que, enquanto eu respirar
e Deus me conservar a vida,
4da minha boca não sairão falsidades,
nem pronunciarei mentiras.
5Longe de mim dar-vos razão!
Defenderei até à morte que sou inocente.
6Manterei sempre com firmeza que tenho razão;
não há nada a reprovar em mim.
7Que os meus adversários e inimigos
tenham a sorte dos criminosos e malvados!»
8«Que esperança pode ter o ímpio, ao morrer,
se Deus lhe corta o fio da vida?
9Será que Deus vai ouvir as suas súplicas,
quando sobre ele recair a aflição?
10Aliás, ele não sente gosto em se voltar para o Todo-Poderoso,
em invocar a Deus a todo o momento.
11Vou mostrar-vos o poder de Deus,
não vos esconderei nada do que sei sobre ele.
12E se todos vocês são testemunhas disso,
por que continuam a repetir falsidades?
13Esta é a paga que o criminoso recebe de Deus,
é a sorte que o Todo-Poderoso lhe reserva.
14Se os seus filhos crescerem, morrerão na guerra
e os seus descendentes não terão com que matar a fome.
15A morte sepultará os seus sobreviventes
e as suas viúvas nem sequer chorarão por eles.
16Se tiver amontoado prata como terra
e juntado roupas como pó,
17essas roupas serão usadas pelos bons e honestos
e a prata será destinada aos que não tiverem culpas.
18A casa que ele construir será como teia de aranha,
como uma cabana feita para guardar um campo.
19Deitou-se rico, mas deixará de o ser:
ao abrir os olhos, já não tem nada27,19 Ou: Deita-se o rico e Deus ceifa-o; basta que Deus fixe nele os olhos e ele deixa de existir..
20Os terrores afogá-lo-ão como a enchente;
numa noite, arrebata-o a tempestade.
21O vento leste leva-o consigo,
o vendaval arranca-o do seu lugar;
22Deus empurra-o sem piedade
e ele tenta desesperadamente escapar-se.
23Com assobios e bofetadas,
obriga-o a abandonar o seu lugar27,23 Ou: Quem o vir a ir-se embora desta maneira, assobiará e baterá palmas..»