351Eliú continuou:
2«Achas razoável dizeres:
“Eu tenho razão contra Deus”
3e acrescentares ainda: “Que interesse tem para ti
e que mal me vem a mim do meu pecado35,3 Ou: Que mal me faz pecar ou não, se ele não toma em conta o meu pecado?”
4Pois eu quero dar-te a resposta,
a ti e aos teus companheiros.
5Olha com atenção para os céus;
vê como as nuvens estão longe de ti.
6Se cometeste pecados, nenhum mal fazes a Deus;
se multiplicas os teus crimes, nenhum prejuízo lhe causas.
7Se foste honesto, o que é que lhe podes dar?
Ou o que pode ele obter da tua mão?
8Só a um homem como tu afeta a tua maldade;
só a ti, mortal, afeta a tua justiça35,8 Sobre os v. 6–8, ver 22,2–3..
9Sob o peso da opressão, as pessoas lamentam-se
e gritam por socorro contra os poderosos.
10Mas ninguém pergunta: “Onde está Deus, que me criou,
que, durante a noite, nos restaura as forças,
11que nos ensina por meio dos animais do campo
e nos dá sabedoria pelas aves do céu35,11 Ou: que nos fez mais inteligentes que os animais do campo e mais sábios que as aves do céu.?”
12Alguns gritam e ele não responde,
diante da insolência dos maus.
13Pois Deus não dá ouvidos a quem não merece,
o Todo-Poderoso não faz caso deles.
14Tu dizes que não o consegues ver;
o caso está diante dele, por isso, espera por ele.
15Será que Deus não castiga com furor
nem presta especial atenção às maldades?
16Job só diz coisas sem sentido;
fala muito, mas sem saber o que diz.»
361Eliú continuou:
2«Tem paciência, que eu tenho mais a dizer-te,
tenho mais coisas a dizer em favor de Deus.
3Levantarei a voz em favor do Deus distante,
mostrando que o meu Criador é que tem razão.
4De facto, as minhas palavras não têm mentira;
é um homem honesto que está diante de ti.
5Deus é poderoso e forte
e despreza os que estão seguros da sua força.
6Não poupa a vida do criminoso,
mas faz justiça aos oprimidos.
7Não afasta o olhar dos que são justos;
fá-los sentar no trono como reis
e dá-lhes grandeza para sempre.
8Se eles se encontram presos
e a aflição os atormenta,
9é para lhes mostrar as suas ações,
o orgulho que os levou à revolta.
10Faz com que eles ouçam com atenção os seus avisos
e convida-os a renunciarem à maldade.
11Se fizerem caso e se submeterem,
os seus dias decorrerão em prosperidade
e os seus anos em bem-estar.
12Se o não fizerem, caem no abismo
e morrerão sem sequer dar por isso.
13Os malvados, quando Deus os agarra,
ficam enfurecidos e não pedem socorro.
14Morrem em plena juventude,
como jovens entregues à prostituição36,14 O termo hebraico utilizado refere-se a homens que praticavam a prostituição sagrada em templos pagãos. Ver 1 Rs 14,24; 22,47. O texto alude à morte precoce de certas vítimas da pederastia..
15Mas Deus salva o oprimido da opressão,
serve-se da desgraça para o avisar.
16Também a ti ele te evitou a aflição,
fazendo-te viver em lugar espaçoso
e a tua mesa transbordar de abundância36,16 Os v. 16–21 são de difícil compreensão, o que motiva sensíveis divergências de tradução..
17Mas mereceste ser condenado como criminoso,
com uma sentença que é perfeitamente justa36,17 Ou: Tinhas fartura de alimentos, ou: enquanto o direito e a justiça caíam por terra..
18Que a irritação te não leve a excessos,
nem te iludas com a ideia de subornar a Deus.
19Pensas que os teus protestos e esforços
são capazes de atrapalhar o Deus forte?
20Não suspires para que a noite
venha tirar os povos do seu lugar.
21Guarda-te de te voltares para o mal,
pois foi por isso que te sobreveio a aflição.»
22«Vê como Deus é sublime no seu poder!
Que mestre se lhe pode comparar?
23Quem se atreve a dar-lhe regras de conduta?
Quem lhe vai dizer: “Fizeste mal”?
24Lembra-te de celebrar as suas obras,
que outros antes já cantaram36,24 Ou: que os homens puderam contemplar..
25Toda a Humanidade o viu;
toda a gente olhava desde longe.
26Deus é demasiado grande para o compreendermos;
o número dos seus anos é insondável.
27Ele vai soltando as gotas de água,
que caem como chuva do seu reservatório,
28escorrendo lentamente das nuvens
ou caindo em bátegas sobre a terra.
29Quem pode compreender a marcha das nuvens,
o ecoar dos trovões no interior da sua tenda?
30Sobre as nuvens, Deus faz brilhar o relâmpago,
que põe a descoberto até o fundo dos mares.
31É com a chuva que ele alimenta os povos
e lhes dá comida em abundância.
32Nas suas mãos ele esconde os raios
e ele mesmo lhes marca o alvo a atingir.
33O trovão anuncia a sua chegada
e o rebanho pressente a tempestade.»
371«Diante disto, o meu coração estremece
e salta fora do meu peito.
2Escutem o ressoar da voz de Deus,
que fala no ribombar do trovão.
3Os relâmpagos brilham pela imensidão dos céus
e sobre as extremidades da terra.
4Depois ressoa o trovão,
Deus faz ecoar a sua voz majestosa.
Ninguém se aguenta de pé,
quando se ouve a sua voz.
5Deus faz ecoar a sua voz prodigiosa
e faz maravilhas incompreensíveis.
6Ordena à neve e à chuva que caiam sobre a terra
e a chuva cai em fortes aguaceiros.
7Desce sobre a terra37,7 Ou: Fecha todos os homens com um selo.,
para que os homens reconheçam as obras de Deus.
8Os animais entram nos seus esconderijos
e ficam nas suas tocas.
9Do seu reservatório sai o furacão,
dos seus armazéns vem a geada.
10Ao sopro de Deus forma-se o gelo
e a superfície das águas fica congelada.
11Do céu, ele espalha a sua luz,
das nuvens irradia o seu relâmpago37,11 Ou: Carrega as nuvens de humidade e dispersa as nuvens da tempestade..
12Fá-los mudar de direção como quer
e fazem tudo o que ele ordena
em qualquer parte do Universo.
13Seja para castigar ou para favorecer e perdoar,
faz com que atinjam o objetivo.
14Ouve bem isto, Job,
e tenta compreender as maravilhas que Deus fez!
15Sabes como é que Deus comanda tudo isto
e faz aparecer o relâmpago nas nuvens?
16Sabes alguma coisa sobre o equilíbrio das nuvens,
maravilha consumada de sabedoria,
17tu que te sentes incomodado com o calor,
quando sopra o vento suão?
18Serás capaz, como ele, de estender o firmamento,
firme e liso como um espelho de cristal?
19Diz-nos como lhe havemos de falar,
para não irmos para diante dele às escuras.
20Será que vão dizer a Deus que eu vou falar?
Alguém se apresenta para ser destroçado?
21Será que não conseguem ver a luz,
brilhando como brilha através das nuvens,
quando o vento sopra e as varre?
22Do norte vêm resplendores de luz dourada;
é Deus rodeado de terrível esplendor.
23Não conseguimos atingir o Todo-Poderoso;
o seu poder é imenso,
infinita a sua justiça e retidão;
ninguém o consegue ver37,23 Ou: mas não oprime ninguém..
24Por isso, os homens o devem respeitar,
pois ele não olha para os que se dizem sábios.»