201Toda a comunidade dos israelitas chegou ao deserto de Sin, no primeiro mês do ano, e instalaram-se em Cadés20,1 Ver 13,21.26 e nota.. Míriam morreu e foi ali enterrada.
2A água faltou ao povo e amotinaram-se à volta de Moisés e de Aarão 3e discutiram com Moisés, dizendo: «Oxalá tivéssemos morrido com os nossos irmãos, castigados pelo Senhor20,3 Ver 17,15–16.27–28! 4Porque é que nos trouxeram para este deserto, a nós que somos o povo do Senhor? Foi para morrermos aqui, nós e os nossos gados? 5Porque é que nos tiraram do Egito, para nos trazerem para este lugar horrível, onde nada se semeia e onde não crescem figueiras nem videiras nem romãzeiras e onde não há sequer água para beber?»
6Moisés e Aarão afastaram-se do povo e dirigiram-se para a entrada da tenda do encontro, inclinaram-se de rosto por terra e o Senhor manifestou-lhes o seu maravilhoso poder. 7O Senhor disse a Moisés: 8«Pega na tua vara, reúne todo o povo e, na companhia do teu irmão Aarão e na presença do povo, ordenem ao rochedo que faça jorrar água. Assim tirarás água do rochedo, para dar de beber ao povo e aos seus gados.»
9Moisés pegou na sua vara, que estava diante do Senhor, tal como ele lhe ordenara. 10Com Aarão, Moisés mandou reunir o povo diante do rochedo e disse-lhe: «Ouçam-me bem, ó gente rebelde! Será que vamos conseguir tirar-vos água deste rochedo?»
11Depois levantou o braço e bateu com a sua vara duas vezes no rochedo e saiu tanta água que deu para as pessoas e os gados beberem.
12O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Não tiveram confiança em mim nem me honraram, diante dos israelitas. Por isso, também não serão vocês que hão de fazer entrar este povo na terra que lhe vou dar20,12 A culpa de Moisés e Aarão não fica muito clara. Talvez tenha sido a de bater no rochedo (v. 11), em vez de o intimarem por uma ordem (v. 8)..»
13Esta é a nascente de Meriba20,13 Meriba lembra a expressão hebraica que significa “água do conflito”., onde os israelitas discutiram com o Senhor e ele manifestou-lhes o seu poder.
14De Cadés, Moisés enviou mensageiros para irem dizer ao rei de Edom: «Escuta a mensagem dos teus irmãos israelitas! Já conheces as dificuldades que temos passado. 15Os nossos antepassados emigraram para o Egito e lá estivemos muito tempo, mas os egípcios trataram-nos mal, a nós e aos nossos pais. 16Pedimos ajuda ao Senhor; ele ouviu os nossos pedidos e mandou um mensageiro para nos fazer sair do Egito. Encontramo-nos agora em Cadés, cidade que está junto da fronteira com os teus territórios. 17Deixa-nos atravessar o teu país; não pisaremos campos nem vinhas, nem beberemos água das tuas fontes. Seguiremos sempre pela estrada real, sem nos desviarmos para a esquerda nem para a direita, até termos atravessado o teu território.»
18O rei de Edom respondeu: «Não podem atravessar o meu país! Se tentarem fazê-lo, faço-vos frente com o meu exército!»
19Os israelitas insistiram: «Iremos sempre pela estrada principal e se nós ou os nossos gados tivermos de beber água das tuas fontes pagaremos o justo preço. Só te pedimos que nos deixes atravessar o país.»
20O rei replicou: «Não podem atravessar o meu território!» E saiu ao encontro dos israelitas com um exército numeroso e fortemente armado.
21E como os edomeus se recusaram a deixar passar os israelitas pelo seu território, estes foram obrigados a fazer um desvio por outro lado.
22Saindo de Cadés, toda a comunidade dos israelitas se dirigiu para o monte Hor, junto da fronteira de Edom. 23Ali o Senhor disse a Moisés e a Aarão: 24«Aarão irá juntar-se aos seus antepassados que morreram e não entrará na terra que eu vou dar aos israelitas20,24 Ver 11,12; 14,18.31; 15,2.17; 20,12., por causa da vossa rebeldia contra as minhas ordens, junto da nascente de Meriba. 25Chama Aarão e o seu filho Eleazar e sobe com eles ao monte Hor; 26tira as vestes sagradas a Aarão e veste-as ao seu filho Eleazar20,26 Sobre esta transmissão das vestes sacerdotais, ver Ex 29,29–30.. Depois Aarão morrerá naquele mesmo lugar.»
27Moisés fez conforme o Senhor lhe tinha mandado e, à vista de todo o povo, encaminharam-se os três para o monte Hor. 28Tirou a Aarão as vestes sagradas e vestiu com elas o seu filho Eleazar. E Aarão morreu no cimo daquele monte20,28 Ver Nm 33,38–39; Dt 10,6. e Moisés desceu da montanha com Eleazar. 29Ao saberem que Aarão tinha morrido, todos os israelitas fizeram luto por ele, durante trinta dias.
211O rei de Arad21,1 Arad fica a uns 30 km a leste de Bercheba., um cananeu que habitava no Negueve, soube que os israelitas vinham pelo caminho de Atarim21,1 Localidade desconhecida. Ver 33,40., atacou-os e levou alguns como prisioneiros. 2Então os israelitas fizeram a seguinte promessa ao Senhor: «Se nos deres a vitória sobre este povo, todas as suas cidades serão votadas à destruição em tua honra.» 3O Senhor ouviu o pedido dos israelitas e deu-lhes a vitória sobre os cananeus e os israelitas condenaram à destruição as suas cidades. E aquele lugar passou a chamar-se Horma21,3 Horma quer dizer, em hebraico, “destruição”..
4Do monte Hor, os israelitas dirigiram-se para o Mar Vermelho, contornando o território de Edom21,4 Ver Dt 2,1.. Mas no caminho, o povo sentiu-se muito cansado 5e começou a protestar contra Deus e contra Moisés: «Por que é que nos fizeram sair do Egito, para morrermos no deserto? Não temos nem pão nem água e já estamos enjoados desta comida fraca.»
6O Senhor enviou contra o povo serpentes venenosas; elas morderam muita gente e muitos israelitas morreram21,6 Sobre os v. 5–6, ver 1 Co 10,9.. 7Então o resto do povo foi ter com Moisés, exclamando: «Errámos, quando protestámos contra o Senhor e contra ti! Pede ao Senhor que afaste de nós as serpentes.» E Moisés pediu ao Senhor em favor do povo. 8O Senhor respondeu-lhe: «Arranja uma serpente de metal e pendura-a no cimo dum pau. Quando alguém for mordido por uma serpente e olhar para esta serpente, salvará a vida.»
9Moisés fez uma serpente de bronze e pendurou-a no cimo dum pau. Quando as serpentes mordiam em alguém, este olhava para a serpente de bronze e ficava curado21,9 Ver 2 Rs 18,4; Jo 3,14..
10Os israelitas partiram e foram acampar em Obot. 11Depois saíram de Obot e foram acampar em Ié-Abarim, no deserto que se encontra a oriente de Moab. 12Dali, foram para junto da ribeira de Zéred. 13Saindo de Zéred, foram acampar do outro lado do Arnon, rio que nasce no território dos amorreus e atravessa o deserto, servindo de fronteira entre o território de Moab e o dos amorreus. 14Assim se lê no livro das Guerras do Senhor21,14 O livro das Guerras do Senhor deve ser uma recolha de poemas, do qual só conhecemos este poema relativamente difícil de traduzir.:
«Vaeb, em Sufá, e os afluentes,
o Arnon e a margem dos seus afluentes,
15que se estendem para os lados de Ar
e chegam até à fronteira de Moab.»
16Dali foram para Beer que era o poço21,16 Beer, quer dizer, em hebraico, “poço”. a propósito do qual o Senhor tinha dito a Moisés: «Manda reunir o povo que eu lhes darei água.» 17Foi então que os israelitas cantaram a seguinte canção21,17 Fragmento de um outro poema de origem desconhecida.:
«Sobe, água do poço!
Cantem-lhe canções!
18Poço aberto por príncipes,
cavado por gente nobre,
com seus cetros e cajados de comando.»
Do deserto, foram para Mataná 19e dali para Naliel; de Naliel foram para Bamot 20e dali para o vale dos campos de Moab, em direção ao cimo do monte Pisga, donde se domina toda a estepe.
21Os israelitas enviaram mensageiros a Seon, rei dos amorreus, para lhe dizerem: 22«Deixa-nos atravessar o teu país; não nos desviaremos nem por campos nem por vinhas, nem beberemos águas das fontes. Seguiremos sempre pela estrada real21,22 Ver nota a 20,17., até termos atravessado o teu território.»
23Mas Seon não lhes permitiu atravessar o seu território. Pelo contrário, reuniu todo o seu exército e saiu contra os israelitas, no deserto. Foi encontrá-los em Jaás e atacou-os. 24Estes derrotaram Seon e conquistaram todo o seu país, desde o Arnon até ao Jaboc e ao país dos amonitas, cuja fronteira se encontrava fortificada. 25Os israelitas conquistaram todas as suas cidades e instalaram-se em todas as cidades amorreias, incluindo Hesbon e as suas aldeias. 26Hesbon era a capital de Seon, rei dos amorreus. Este tinha estado em guerra contra o anterior rei de Moab e tinha-se apoderado de todo o seu país até ao Arnon. 27A propósito disso diziam os poetas:
«Venham a Hesbon, capital do rei Seon!
Venham agora reconstruí-la e restaurá-la!
28O fogo saía de Hesbon,
as chamas, da capital de Seon;
o fogo devorou Ar de Moab
e os senhores das colinas do Arnon.
29Ai de ti, Moab!
Estás perdido, ó povo do deus Camós!
As tuas filhas e os teus filhos sobreviventes
são prisioneiros do rei amorreu, Seon21,29 Ou: os homens tiveram de fugir e as mulheres ficaram prisioneiras..
30Nós atirámos sobre os amorreus
e Hesbon ficou desfeita até Dibon;
devastámo-los até Nofa
e o fogo alastrou até Madabá.»
31Os israelitas instalaram-se na terra dos amorreus. 32Moisés enviou espiões para explorar a cidade de Jazer. Os israelitas apoderaram-se também das suas aldeias, expulsando os habitantes amorreus. 33Depois mudaram de direção e dirigiram-se para Basã. Og, rei de Basã, saiu contra eles com todo o seu exército e deu-lhes batalha em Edrei.
34O Senhor disse a Moisés: «Não tenhas medo dele, pois eu ponho-o à tua disposição com todo o seu exército e todo o seu país. Trata-o como trataste Seon, rei dos amorreus, que habitava em Hesbon.»
35E os israelitas derrotaram-no a ele, aos seus filhos e a todo o seu exército, sem que tenha ficado nenhum sobrevivente, e conquistaram o seu país.
221Os israelitas partiram e foram acampar nas estepes de Moab, no lado oriental do Jordão, em frente de Jericó.
2Balac, filho de Sipor, que era então o rei de Moab, ao saber como os israelitas tinham tratado os amorreus, 3ficou cheio de medo dos israelitas e com ele todo o povo de Moab, por saberem que os israelitas eram um povo muito numeroso. 4Por isso, Balac, filho de Sipor, disse aos anciãos de Madiã: «Essa manada vai devorar a nossa região como o boi devora a erva dos campos!»
5Balac mandou então mensageiros a Balaão, filho de Beor, que estava em Petor22,5 Sobre Balaão, ver 2 Pe 2,15–16; Jd v. 11. Petor é uma localidade não identificada provavelmente situada no norte da Síria., junto ao Eufrates, no país dos amavitas22,5 O texto hebraico massorético lê: no território do seu povo., para lhe levarem a seguinte mensagem: «Veio do Egito um povo que cobre agora a superfície deste país e veio instalar-se mesmo diante de mim. 6Vem, por favor! Vem amaldiçoar por mim este povo, porque eles são muito mais fortes do que eu. Quero ver se assim consigo derrotá-los e expulsá-los deste país. Pois eu sei que tudo aquilo que tu abençoas fica abençoado e tudo o que tu amaldiçoas fica amaldiçoado.»
7Então os anciãos de Moab e os de Madiã foram ter com Balaão, levaram-lhe o dinheiro para pagar o esconjuro e comunicaram-lhe a mensagem de Balac. 8Balaão respondeu-lhes: «Fiquem cá esta noite que eu depois vos darei a minha resposta, conforme aquilo que o Senhor me disser.» E os chefes de Moab ficaram em casa de Balaão.
9Deus aproximou-se de Balaão e perguntou-lhe: «Quem são esses homens que estão contigo?» 10Balaão respondeu: «Foi Balac, filho de Sipor, rei de Moab, que mos enviou com esta mensagem: 11“Veio do Egito um povo que cobre agora a superfície deste país. Vem, por favor, amaldiçoá-los por mim. Talvez assim eu consiga lutar contra eles e expulsá-los.”»
12Mas Deus respondeu a Balaão: «Não vás com eles. Não podes amaldiçoar esse povo, porque ele é abençoado por mim.»
13Na manhã seguinte, Balaão levantou-se e foi dizer aos chefes enviados por Balac: «Voltem para a vossa terra, pois o Senhor não me deixa ir convosco.»
14Os chefes de Moab partiram e, chegando a casa de Balac, disseram-lhe: «Balaão não quis vir connosco.»
15Balac mandou outra vez mais chefes e ainda mais importantes do que os primeiros. 16Estes chegaram onde estava Balaão e disseram-lhe da parte de Balac, filho de Sipor: «Por favor, não te recuses a vir comigo! 17Prometo encher-te de honrarias e fazer por ti tudo o que me pedires. Mas vem, por favor, amaldiçoar por mim este povo.»
18Balaão respondeu aos chefes enviados por Balac: «Ainda que Balac me desse o seu palácio cheio de prata e ouro, eu não poderia desobedecer às ordens do Senhor, meu Deus, nem em pouco nem em muito. 19Por isso, fiquem cá também esta noite, para eu saber se o Senhor tem mais alguma coisa a me comunicar.»
20Durante a noite, Deus aproximou-se de Balaão e disse-lhe: «Se esses homens vieram insistir em te chamar, podes ir com eles; mas só podes fazer aquilo que eu te indicar que deves fazer.»
21Na manhã seguinte, Balaão levantou-se, preparou a sua burra e partiu com os chefes de Moab. 22Mas Deus tinha ficado irado22,22 Esta expressão parece contradizer o que se afirma em 22,20. Na realidade, a narração de 22,22–35 repete de modo algo diferente o dito em 22,7–21. com a ida de Balaão e o anjo do Senhor colocou-se no meio do caminho, fazendo frente a Balaão. Balaão ia montado na burra e levava consigo os seus dois criados. 23Quando a burra viu o anjo do Senhor colocado no meio do caminho, de espada desembainhada na mão, saiu do caminho e meteu-se pelos campos fora. Balaão batia na burra, para a obrigar a voltar ao caminho.
24Mais adiante, o anjo do Senhor foi colocar-se de novo num caminho estreito que passava entre os muros de duas vinhas. 25Ao ver o anjo do Senhor, a burra apertou-se contra o muro e entalou a perna de Balaão contra o muro. E Balaão bateu-lhe ainda mais.
26Mais uma vez, o anjo do Senhor foi colocar-se na sua frente, numa passagem estreita, onde não havia possibilidade de desvio nem para a direita nem para a esquerda. 27Quando a burra viu o anjo do Senhor, deitou-se no chão, estando Balaão ainda em cima dela. Balaão ficou enfurecido e desatou a dar pancada na burra. 28Mas o Senhor fez com que a burra falasse e esta disse a Balaão: «Que mal te fiz eu, para me bateres assim, três vezes seguidas?»
29Balaão replicou-lhe: «Por que estás a fazer pouco de mim! Se eu tivesse à mão um punhal, matava-te agora mesmo.»
30Mas a burra respondeu a Balaão: «Eu sou a tua burra, que tu tens montado sempre, até hoje. Alguma vez tive o mau hábito de me comportar assim contigo?» Ele respondeu-lhe: «Não!»
31Então o Senhor abriu os olhos a Balaão e ele pôde ver o anjo do Senhor de pé no meio do caminho, com a espada desembainhada na mão, e inclinou-se de rosto por terra, em adoração. 32O anjo do Senhor disse-lhe: «Por que é que bateste já três vezes seguidas na tua burra? Eu é que me pus à tua frente, para te impedir de ires por um caminho contrário a mim. 33A burra viu-me e por três vezes se desviou de mim. Se ela se não tivesse afastado, eu já agora te teria matado, deixando-a viva a ela.»
34Balaão respondeu ao anjo do Senhor: «Pequei! Mas foi por não saber que tu estavas na frente do meu caminho. Se achas mal esta minha viagem, estou pronto para voltar para casa.»
35O anjo do Senhor respondeu-lhe: «Vai com esses homens, mas não podes dizer senão aquilo que eu te comunicar.»
E Balaão continuou viagem com os chefes enviados por Balac.
36Quando Balac soube que Balaão estava a chegar, foi ao seu encontro numa cidade de Moab, que se encontra junto da fronteira, na margem do rio Arnon22,36 Provavelmente a cidade de Ar. Ver 21,15.28., nos confins do seu território. 37Balac perguntou a Balaão: «Por que é que não vieste, quando te mandei chamar? Pensas que não sou capaz de te recompensar condignamente?»
38Balaão respondeu: «Pois bem, aqui estou! Mas não poderei dizer tudo o que te apetecer. O que eu vou dizer será aquilo que Deus me mandar.»
39Balaão continuou a viagem com Balac até chegarem a Quiriat-Huçot. 40Balac ofereceu bois e ovelhas em sacrifício e presenteou Balaão e os chefes que vinham com ele com carne desse sacrifício. 41Na manhã seguinte, Balac levou Balaão ao cimo do monte Bamot-Baal22,41 Pode ser a localidade de Bamot referida em 21,19 ou simplesmente uma colina dedicada ao culto de Baal., donde se via parte do acampamento dos israelitas.