221Os israelitas partiram e foram acampar nas estepes de Moab, no lado oriental do Jordão, em frente de Jericó.
2Balac, filho de Sipor, que era então o rei de Moab, ao saber como os israelitas tinham tratado os amorreus, 3ficou cheio de medo dos israelitas e com ele todo o povo de Moab, por saberem que os israelitas eram um povo muito numeroso. 4Por isso, Balac, filho de Sipor, disse aos anciãos de Madiã: «Essa manada vai devorar a nossa região como o boi devora a erva dos campos!»
5Balac mandou então mensageiros a Balaão, filho de Beor, que estava em Petor22,5 Sobre Balaão, ver 2 Pe 2,15–16; Jd v. 11. Petor é uma localidade não identificada provavelmente situada no norte da Síria., junto ao Eufrates, no país dos amavitas22,5 O texto hebraico massorético lê: no território do seu povo., para lhe levarem a seguinte mensagem: «Veio do Egito um povo que cobre agora a superfície deste país e veio instalar-se mesmo diante de mim. 6Vem, por favor! Vem amaldiçoar por mim este povo, porque eles são muito mais fortes do que eu. Quero ver se assim consigo derrotá-los e expulsá-los deste país. Pois eu sei que tudo aquilo que tu abençoas fica abençoado e tudo o que tu amaldiçoas fica amaldiçoado.»
7Então os anciãos de Moab e os de Madiã foram ter com Balaão, levaram-lhe o dinheiro para pagar o esconjuro e comunicaram-lhe a mensagem de Balac. 8Balaão respondeu-lhes: «Fiquem cá esta noite que eu depois vos darei a minha resposta, conforme aquilo que o Senhor me disser.» E os chefes de Moab ficaram em casa de Balaão.
9Deus aproximou-se de Balaão e perguntou-lhe: «Quem são esses homens que estão contigo?» 10Balaão respondeu: «Foi Balac, filho de Sipor, rei de Moab, que mos enviou com esta mensagem: 11“Veio do Egito um povo que cobre agora a superfície deste país. Vem, por favor, amaldiçoá-los por mim. Talvez assim eu consiga lutar contra eles e expulsá-los.”»
12Mas Deus respondeu a Balaão: «Não vás com eles. Não podes amaldiçoar esse povo, porque ele é abençoado por mim.»
13Na manhã seguinte, Balaão levantou-se e foi dizer aos chefes enviados por Balac: «Voltem para a vossa terra, pois o Senhor não me deixa ir convosco.»
14Os chefes de Moab partiram e, chegando a casa de Balac, disseram-lhe: «Balaão não quis vir connosco.»
15Balac mandou outra vez mais chefes e ainda mais importantes do que os primeiros. 16Estes chegaram onde estava Balaão e disseram-lhe da parte de Balac, filho de Sipor: «Por favor, não te recuses a vir comigo! 17Prometo encher-te de honrarias e fazer por ti tudo o que me pedires. Mas vem, por favor, amaldiçoar por mim este povo.»
18Balaão respondeu aos chefes enviados por Balac: «Ainda que Balac me desse o seu palácio cheio de prata e ouro, eu não poderia desobedecer às ordens do Senhor, meu Deus, nem em pouco nem em muito. 19Por isso, fiquem cá também esta noite, para eu saber se o Senhor tem mais alguma coisa a me comunicar.»
20Durante a noite, Deus aproximou-se de Balaão e disse-lhe: «Se esses homens vieram insistir em te chamar, podes ir com eles; mas só podes fazer aquilo que eu te indicar que deves fazer.»
21Na manhã seguinte, Balaão levantou-se, preparou a sua burra e partiu com os chefes de Moab. 22Mas Deus tinha ficado irado22,22 Esta expressão parece contradizer o que se afirma em 22,20. Na realidade, a narração de 22,22–35 repete de modo algo diferente o dito em 22,7–21. com a ida de Balaão e o anjo do Senhor colocou-se no meio do caminho, fazendo frente a Balaão. Balaão ia montado na burra e levava consigo os seus dois criados. 23Quando a burra viu o anjo do Senhor colocado no meio do caminho, de espada desembainhada na mão, saiu do caminho e meteu-se pelos campos fora. Balaão batia na burra, para a obrigar a voltar ao caminho.
24Mais adiante, o anjo do Senhor foi colocar-se de novo num caminho estreito que passava entre os muros de duas vinhas. 25Ao ver o anjo do Senhor, a burra apertou-se contra o muro e entalou a perna de Balaão contra o muro. E Balaão bateu-lhe ainda mais.
26Mais uma vez, o anjo do Senhor foi colocar-se na sua frente, numa passagem estreita, onde não havia possibilidade de desvio nem para a direita nem para a esquerda. 27Quando a burra viu o anjo do Senhor, deitou-se no chão, estando Balaão ainda em cima dela. Balaão ficou enfurecido e desatou a dar pancada na burra. 28Mas o Senhor fez com que a burra falasse e esta disse a Balaão: «Que mal te fiz eu, para me bateres assim, três vezes seguidas?»
29Balaão replicou-lhe: «Por que estás a fazer pouco de mim! Se eu tivesse à mão um punhal, matava-te agora mesmo.»
30Mas a burra respondeu a Balaão: «Eu sou a tua burra, que tu tens montado sempre, até hoje. Alguma vez tive o mau hábito de me comportar assim contigo?» Ele respondeu-lhe: «Não!»
31Então o Senhor abriu os olhos a Balaão e ele pôde ver o anjo do Senhor de pé no meio do caminho, com a espada desembainhada na mão, e inclinou-se de rosto por terra, em adoração. 32O anjo do Senhor disse-lhe: «Por que é que bateste já três vezes seguidas na tua burra? Eu é que me pus à tua frente, para te impedir de ires por um caminho contrário a mim. 33A burra viu-me e por três vezes se desviou de mim. Se ela se não tivesse afastado, eu já agora te teria matado, deixando-a viva a ela.»
34Balaão respondeu ao anjo do Senhor: «Pequei! Mas foi por não saber que tu estavas na frente do meu caminho. Se achas mal esta minha viagem, estou pronto para voltar para casa.»
35O anjo do Senhor respondeu-lhe: «Vai com esses homens, mas não podes dizer senão aquilo que eu te comunicar.»
E Balaão continuou viagem com os chefes enviados por Balac.
36Quando Balac soube que Balaão estava a chegar, foi ao seu encontro numa cidade de Moab, que se encontra junto da fronteira, na margem do rio Arnon22,36 Provavelmente a cidade de Ar. Ver 21,15.28., nos confins do seu território. 37Balac perguntou a Balaão: «Por que é que não vieste, quando te mandei chamar? Pensas que não sou capaz de te recompensar condignamente?»
38Balaão respondeu: «Pois bem, aqui estou! Mas não poderei dizer tudo o que te apetecer. O que eu vou dizer será aquilo que Deus me mandar.»
39Balaão continuou a viagem com Balac até chegarem a Quiriat-Huçot. 40Balac ofereceu bois e ovelhas em sacrifício e presenteou Balaão e os chefes que vinham com ele com carne desse sacrifício. 41Na manhã seguinte, Balac levou Balaão ao cimo do monte Bamot-Baal22,41 Pode ser a localidade de Bamot referida em 21,19 ou simplesmente uma colina dedicada ao culto de Baal., donde se via parte do acampamento dos israelitas.
231Balaão pediu a Balac: «Manda que me construam aqui sete altares e que me preparem sete bois e sete carneiros.» 2Balac cumpriu as indicações de Balaão e juntos ofereceram um boi e um carneiro sobre cada altar. 3Depois Balaão disse a Balac: «Fica aqui ao pé dos teus holocaustos, enquanto eu vou ver se o Senhor vem ao meu encontro. Depois comunico-te aquilo que o Senhor me disser.»
Balaão foi a uma colina isolada. 4Deus foi ter com ele e Balaão disse-lhe: «Mandei construir os sete altares e ofereci um boi e um carneiro em sacrifício sobre cada altar.»
5O Senhor indicou a Balaão o que devia dizer e acrescentou: «Vai de novo ter com Balac e fala da maneira que eu te disse.»
6Balaão voltou e encontrou Balac ainda de pé junto dos seus holocaustos, com os chefes de Moab.
7E nessa altura Balaão recitou o seguinte poema:
«Da Síria, dos montes do oriente,
me mandou vir Balac, o rei de Moab:
“Vem amaldiçoar por mim os descendentes de Jacob,
vem ameaçar os israelitas!”
8Mas como posso eu amaldiçoar
aqueles que o Senhor Deus não amaldiçoa
e ameaçar os que ele não ameaça?
9Estou a vê-los do cimo dos rochedos,
cá do alto estou a admirá-los!
É um povo capaz de viver sozinho,
sem ter de se misturar com os outros povos!
10Quem poderá enumerar a nuvem de descendentes de Jacob
e contar a multidão de Israel23,10 Ou: e contar mesmo só um quarto dos israelitas.?
Quem me dera ter um fim
igual ao destes homens bons,
um futuro semelhante ao deste povo!»
11Balac disse a Balaão: «Que me estás a fazer? Eu trouxe-te cá para amaldiçoares o meu inimigo e tu pões-te a abençoá-lo?»
12Balaão respondeu: «Eu sou obrigado a dizer aquilo que o Senhor me manda dizer.»
13Balac pediu-lhe de novo: «Vem comigo, por favor, a um outro lugar, onde se vê bem; daqui só se pode ver uma pequena parte e não o acampamento inteiro23,13 Ou: a um lugar donde não se vê senão parte do acampamento.. Vem amaldiçoar de lá este povo por mim.» 14Levou-o então a um ponto de observação23,14 Pode tratar-se de uma localidade chamada Campo de Sofim., perto do cimo do monte Pisga, e voltou a construir sete altares e a oferecer um boi e um carneiro sobre cada um deles. 15Balaão disse a Balac: «Fica aqui de pé junto dos teus holocaustos que eu vou ali encontrar-me com Deus.» 16O Senhor foi ao encontro de Balaão, indicou-lhe o que devia dizer e acrescentou: «Vai de novo ter com Balac e fala da maneira que eu te disse.»
17Balaão voltou e encontrou Balac ainda de pé junto dos seus holocaustos com os chefes de Moab. Balac perguntou a Balaão: «Que é que o Senhor disse?»
18E Balaão recitou o seguinte poema:
«Levanta-te, Balac, e escuta-me,
dá-me ouvidos, ó filho de Sipor:
19Deus não muda de palavra, como os homens,
não volta atrás, como os mortais.
Será que ele diz uma coisa e não a faz?
Porventura promete e não realiza?
20Recebi ordens para abençoar.
Ele abençoou e eu não volto atrás?
21Nenhuma desgraça apanhará os descendentes de Jacob,
nenhum sofrimento atingirá o povo de Israel23,21 Ou: Não descobre maldade em Jacob, nem encontra crime em Israel..
O Senhor, o seu Deus, está com ele
e ele aclama-o como seu rei.
22Deus fê-los sair do Egito,
atacando o Egito como um touro irresistível.
23Contra o povo dos israelitas
não servem magias nem esconjuros23,23 Ou: Entre o povo dos israelitas não há magos nem adivinhos..
É preciso dizer agora a Israel:
“Que maravilhas Deus fez por ti!”
24Este povo ergue-se como um leão,
põe-se de pé como um tigre;
não volta a deitar-se;
enquanto não devora a presa,
enquanto não bebe o sangue da sua vítima.»
25Balac replicou a Balaão: «Já que não o amaldiçoas, pelo menos não o abençoes!» 26Balaão respondeu: «Já te disse que faço só aquilo que o Senhor me manda.»
27Balac pediu a Balaão: «Vem! Vou levar-te a outro lugar. Talvez Deus ache bem que tu os amaldiçoes de lá por mim.» 28E Balac levou Balaão ao cimo do monte Peor, de onde se avista toda a planície. 29Balaão disse a Balac: «Manda-me construir aqui sete altares e que me preparem sete bois e sete carneiros.» 30Balac cumpriu as indicações de Balaão e ofereceu um boi e um carneiro sobre cada altar.
241Balaão compreendeu que o Senhor queria abençoar Israel e já não foi, como das outras vezes, à procura de revelações, mas voltou-se imediatamente para o deserto. 2Olhou para os israelitas, que estavam acampados por tribos. Nisto o Espírito de Deus inspirou-o 3e Balaão recitou o seguinte poema:
«Mensagem de Balaão, filho de Beor,
homem de olhar penetrante24,3 Ou: que sabe fechar os olhos, para melhor se concentrar numa luz interior.
4que recebe revelações de Deus
e visões da parte do Todo-Poderoso,
daquele que entra em êxtase e vê com mais clareza!
5Que belas são as vossas tendas, ó descendentes de Jacob,
as vossas moradas, ó israelitas.
6Estendem-se como vales férteis,
como jardins junto ao rio,
como árvores de aloés e como cedros,
que o Senhor plantou à beira de água.
7A água corre dos reservatórios deste povo
e com água as searas produzem muito.
O seu rei é mais forte do que Agag24,7 Ver 1 Sm 15.
e o seu reinado será soberano.
8Deus fê-los sair do Egito,
atacando o Egito como um touro irresistível.
Devora os povos seus inimigos,
esmagando-lhes os ossos
e ferindo-os com as suas flechas,
9acocorado em atitude de espera,
como os tigres e os leões.
Quem lhe poderá resistir?
Quem te abençoa, ó Israel, é abençoado24,9 Ver Gn 49,9.
e quem te amaldiçoa é amaldiçoado.»
10Muito irritado, Balac ameaçava bater em Balaão e disse: «Mandei-te vir para amaldiçoares o meu inimigo e tu já o abençoaste por três vezes. 11Pois agora, vai-te embora para a tua terra. Eu tinha-te prometido honrarias, mas o Senhor não consentiu que as conseguisses!»
12Balaão respondeu a Balac: «Eu já tinha dito claramente aos mensageiros que enviaste a minha casa 13que eu não poderia desobedecer às ordens do Senhor, fazendo qualquer coisa por minha iniciativa, fosse bem ou fosse mal, ainda que Balac me desse o seu palácio cheio de prata e ouro. O que o Senhor me disse é isso que eu vou dizer. 14E agora volto para junto dos meus. Mas antes disso, quero anunciar-te aquilo que este povo há de fazer ao teu povo no futuro.» 15E Balaão recitou o seguinte poema:
«Mensagem de Balaão, filho de Beor,
homem de olhar penetrante24,15 Ver 24,3 e nota.,
16mensagem daquele que recebe revelações de Deus
e visões da parte do Todo-Poderoso,
que conhece os planos do Altíssimo
e que entra em êxtase e vê com mais clareza.
17Estou a ver o que acontecerá mais tarde,
num futuro ainda distante.
Uma estrela de Jacob vai dominar24,17 No oriente a estrela era o sinal dos deuses e dos reis. (Ver Mt 2,2). Este oráculo referia-se talvez a David, vencedor dos moabitas (2 Sm 8,2). Através dele é visada toda a sua dinastia, e finalmente o messias-rei esperado.,
vai erguer-se um cetro de Israel
que há de esmagar a cabeça aos moabitas
e destruir os nómadas descendentes de Set.
18Conquistará a região de Seir,
apoderando-se do país dos edomeus, seus inimigos.
Israel ficará rico
19e Jacob há de mandar em todos eles
e acabará com os sobreviventes da capital.»
20Depois referindo-se aos amalecitas, Balaão disse:
«Os amalecitas são um povo muito importante,
mas no futuro serão destruídos.»
21Referindo-se aos quenitas disse:
«A tua morada é segura,
o teu ninho está colocado no rochedo24,21 Em hebraico a palavra quenita lembra a palavra que significa “ninho”..
22Contudo até esse ninho será queimado
e um dia os assírios hão de levar-te prisioneiro24,22 Ou: E os da tribo de Achur hão de levar-te prisioneiro. Ver Gn 25,3..»
23Balaão acrescentou ainda:
«Ai! Quem poderá viver,
quando Deus fizer tudo isto?
24Navios virão do lado de Chipre
e oprimirão descendentes de Assur24,24 Em vez de Assur, podia ser a tribo de Achur (Gn 25,3). e de Héber24,24 Héber era antepassado de Abraão e dos hebreus (1 Cr 1,25–27).
mas também esse finalmente perecerá.»
25Depois disto, Balaão pôs-se a caminho de sua casa e Balac foi-se também embora.