11No tempo em que governavam os juízes1,1 Cerca do ano 1100 a.C., houve uma grande fome em Israel. Um homem que vivia em Belém, terra de Judá, saiu com a sua mulher e os dois filhos e foi com eles por algum tempo para a região de Moab1,1 Planalto fértil situado a oriente do mar Morto.. 2O homem chamava-se Elimelec, sua mulher, Noémia e os dois filhos, Malon e Quilion. Eram de Efrata1,2 Povoação da região de Belém, a poucos quilómetros a sul de Jerusalém., de Belém de Judá.
Quando estavam a morar em Moab, 3Elimelec, o marido de Noémia, morreu e ela ficou lá com os dois filhos. 4Eles casaram-se depois com mulheres de Moab: uma chamava-se Orpa e a outra Rute.
Depois de terem estado cerca de dez anos em Moab, 5morreram também Malon e Quilion. Noémia ficou assim desamparada, sem o marido e sem os dois filhos.
6Quando estava ainda em Moab, Noémia ouviu dizer que o Senhor tinha abençoado o seu povo com boas colheitas; por isso, preparou-se para sair de Moab com as duas noras 7e regressar a Judá. Saíram de lá, ela e as noras, e puseram-se a caminho. 8Já iam de viagem, quando Noémia disse às noras: «Voltem para trás e vão para casa das vossas mães. Que o Senhor seja tão bom para convosco como vocês o foram para os que morreram e para mim. 9E que o Senhor permita que voltem a encontrar marido com quem vivam descansadas.»
Dito isto, beijou-as, mas elas puseram-se a chorar 10e disseram-lhe: «Não! Nós vamos contigo para o teu povo.» 11Noémia respondeu-lhes: «Voltem para trás, minhas filhas. Por que querem ir comigo? Acham que ainda posso ter filhos para serem vossos maridos1,11 Quando um homem casado morria sem deixar filhos, o irmão ou o parente mais próximo deveria casar com a viúva para assegurar descendência ao defunto. Este costume é estabelecido pela lei levirato. Ver Dt 25,5–10; Gn 38,8–9; Mt 22,24.? 12Vão-se embora, minhas filhas, que eu já estou muito velha para tornar a casar. E mesmo que eu ainda tivesse esperança disso, me casasse esta noite e viesse a ter filhos, 13iriam esperar que eles fossem crescidos? Ficariam tanto tempo sem se casar? Não, minhas filhas! A minha amargura é maior do que a vossa, porque o Senhor voltou-se contra mim.»
14Elas puseram-se outra vez a chorar. Então Orpa despediu-se da sogra com um beijo, mas Rute ainda se apegou mais a ela. 15Por isso, Noémia disse-lhe: «Rute, a tua cunhada voltou para o seu povo e para o seu deus; vai também com ela.» 16Rute, porém, respondeu:
«Não me obrigues a deixar-te,
e a separar-me de ti.
Eu irei para onde fores,
viverei onde viveres.
O teu povo será meu povo
e o teu Deus será meu Deus.
17Morrerei onde morreres,
aí serei sepultada.
Que o castigo do Senhor
caia forte sobre mim,
se alguma coisa, mesmo a morte,
me separasse de ti.»
18Então Noémia viu que Rute estava mesmo decidida a ir com ela e não lhe falou mais no assunto.
19E lá foram as duas para Belém. Ao chegarem, toda a cidade ficou em alvoroço e as mulheres perguntavam: «Não é esta a Noémia?» 20Noémia respondeu-lhes: «Não me chamem Noémia1,20 Noémia significa agradável., chamem-me Mara1,20 Mara significa amargurada., porque o Todo-Poderoso tem-me dado uma vida cheia de amargura. 21Quando saí daqui, levava abundância, mas o Senhor fez-me voltar de mãos vazias. Por que me chamam Agradável, se o Senhor, todo-poderoso, se voltou contra mim e me tem afligido tanto?»
22Foi assim que Noémia regressou de Moab, acompanhada de Rute, sua nora moabita. E chegaram a Belém, quando a colheita da cevada estava a começar1,22 A colheita da cevada fazia-se entre abril e maio..
21Noémia tinha um parente chamado Booz, homem rico e importante, que pertencia à família de Elimelec, seu marido. 2Rute, a moabita, disse a Noémia: «Deixa-me ir aos campos apanhar espigas caídas, atrás de algum ceifeiro2,2 Os pobres tinham direito às espigas esquecidas pelos ceifeiros. Ver Lv 19,9–10; Dt 24,19–21. que me autorize a fazer isso.» Noémia respondeu-lhe: «Vai sim, minha filha.»
3Rute foi então para os campos e pôs-se a apanhar as espigas que os ceifeiros deixavam ficar. E aconteceu que foi parar ao campo que pertencia a Booz, o parente de Elimelec.
4Depois chegou Booz, que vinha de Belém, e saudou os ceifeiros, dizendo: «O Senhor esteja convosco.» E eles responderam: «O Senhor te abençoe.» 5Booz perguntou então ao encarregado dos ceifeiros: «Quem é aquela rapariga?» 6E ele respondeu: «É a jovem moabita que veio com Noémia das terras de Moab. 7Pediu-me licença para apanhar e levar as espigas que os ceifeiros deixam ficar atrás. Anda aí desde que veio, de manhã, a não ser um pouco que esteve a descansar em casa.»
8Então Booz disse a Rute: «Ouve, minha filha. Não precisas de ir apanhar espigas a outros campos; não saias deste e chega-te às minhas ceifeiras. 9Repara em que parte do campo elas estão a ceifar e vai atrás delas. Eu dou ordens aos meus homens para não te incomodarem. E quando tiveres sede, vais beber às bilhas donde eles bebem também.»
10Rute inclinou-se até ao chão e perguntou a Booz: «Por que motivo és tão generoso comigo, tratando-me como conhecida, eu que sou uma estrangeira?» 11Booz respondeu-lhe: «Já me contaram tudo o que fizeste pela tua sogra, depois que o teu marido morreu. Sei que deixaste o teu pai e a tua mãe e a terra onde nasceste e vieste para um povo que antes não conhecias. 12Que o Senhor te pague o bem que fizeste; que o Senhor Deus de Israel, de quem vieste receber proteção, te dê toda a recompensa que mereces.»
13Rute disse então: «Que eu encontre bondade da tua parte, meu senhor. Deste-me muito ânimo, ao falares-me com tanto carinho, embora eu nem sequer seja igual a uma das tuas criadas.»
14À hora da refeição, Booz disse a Rute: «Chega-te para aqui, come connosco e molha o teu pão no molho de vinagre.» Ela então sentou-se ao pé dos ceifeiros e Booz deu-lhe trigo torrado. Ela comeu até ficar satisfeita e ainda lhe sobrou comida.
15Depois de ela se levantar para ir apanhar espigas, Booz disse aos criados: «Deixem-na apanhar espigas, mesmo entre os molhos, e não a impeçam. 16Deixem cair de propósito punhados de espigas para ela apanhar e não ralhem com ela.» 17Por isso, Rute andou a juntar espigas no campo até à tardinha, e quando as debulhou já tinha cerca de vinte e cinco quilos.
18Ela pegou no grão, voltou para a cidade e mostrou à sogra o que tinha conseguido apanhar. Tirou também a comida que lhe tinha sobrado e deu-lha. 19Noémia perguntou-lhe então: «Onde é que andaste hoje a apanhar espigas? Onde é que andaste a trabalhar? Deus abençoe o homem que foi generoso contigo.»
Então Rute contou à sogra que tinha andado a trabalhar no campo dum homem chamado Booz. 20E Noémia disse-lhe: «O Senhor, que é bom para os vivos e para os mortos, o abençoe.» E disse-lhe ainda: «Esse homem é nosso parente chegado e um dos que têm a responsabilidade de nos proteger2,20 Booz, sendo o parente mais próximo do defunto, tinha prioridade sobre o direito à terra conservada em família. Deveria, neste caso, submeter-se à lei do levirato. Ver nota d..»
21Então Rute, a moabita, disse: «Ainda mais, ele disse que eu podia continuar a apanhar espigas com as suas ceifeiras até ao fim da ceifa.» 22E Noémia respondeu: «Sim, minha filha, é melhor que te juntes às suas ceifeiras do que ires para outros campos e te maltratem.»
23Assim Rute se juntou às ceifeiras de Booz para apanhar espigas com elas até ao fim da colheita da cevada e do trigo. E depois continuou a viver com a sua sogra.