101Uma mosca morta infeta e inutiliza um bom perfume; uma pequena insensatez fica mais cara do que grande sabedoria e honra.
2O pensamento do sábio pende para o bem, o pensamento do insensato pende para o mal.
3O insensato mostra, por onde quer que passe, que não tem juízo, ainda que vá sempre dizendo que os outros é que são insensatos.
4Se aquele que manda se irrita contra ti, não deixes o teu lugar, pois o remédio é enfrentar com calma as grandes dificuldades.
5Há ainda outro mal que tenho visto neste mundo e que provém dum erro praticado pelos governantes: 6colocam-se os ignorantes nos melhores lugares, enquanto as pessoas que têm valor ficam no fundo da escala. 7Veem-se escravos a cavalo e príncipes a andar a pé, como escravos.
8Quem abre um buraco cai nele, e o que arromba um muro é mordido por uma serpente10,8 Ver Pv 26,27..
9O que anda a retirar pedras magoa-se com elas e o que racha lenha corre o risco de se ferir.
10Se o machado está mal afiado e ninguém o afia, é preciso fazer muito mais esforço. Consegue-se melhor resultado quando se age com sabedoria.
11Se a serpente morde, antes de se deixar encantar, de que serve o trabalho do encantador?
12As palavras do sábio granjeiam-lhe estima, mas o palavreado do insensato só o arruína. 13Começa por dizer coisas insensatas e acaba por afirmar as maiores tolices.
14O insensato tem sempre muitas coisas para dizer. Mas a verdade é que do futuro ninguém sabe nada. Quem é que sabe informá-lo do que vai acontecer?
15O esforço dos insensatos esgota-os de tal maneira que nem sabem como se vai para a cidade.
16Ai do país em que o rei é uma criança e os ministros se banqueteiam desde manhã cedo.
17Feliz o país em que o rei é nobre de nascimento e em que os ministros comem quando devem, para recompor as suas forças e não para se embriagarem.
18O preguiçoso deixa cair a trave da casa e aquele que cruza os braços deixa-a inundar.
19Para festejar, faz-se um banquete e bebe-se vinho para dar alegria à vida. Mas para tudo isso é necessário dinheiro.
20Não critiques o rei, nem sequer em pensamento; não digas mal do rico, nem que seja no teu quarto, porque as aves podem levar a tua voz e transmitir a tua informação.
111Lança o teu trigo sobre o mar, que passado algum tempo o recolherás11,1 Este provérbio pode ser um conselho a investir no comércio marítimo, ou simplesmente uma metáfora para aconselhar coragem no aventurar-se num empreendimento, mesmo que implique riscos..
2Partilha o que é teu com todos os que puderes; nunca sabes as desgraças que podem cair sobre o país.
3Se as nuvens estiverem carregadas, deixam cair chuva sobre a terra. Uma árvore qualquer tanto pode cair para Sul como para Norte. E onde cair lá ficará.
4O que anda a observar o vento nunca faz a sementeira e o que só olha para as nuvens nunca faz a colheita.
5Assim como não sabes como entra o sopro da vida no feto que está no ventre da mãe, assim também não compreendes aquilo que Deus faz, ele que tudo pode fazer.
6De manhã lança a semente à terra e de tarde não cruzes os braços, pois não sabes qual das sementeiras é que vai dar melhor resultado, ou se ambas são igualmente boas.
7É bom e agradável que os olhos consigam ver a luz e contemplar o Sol. 8Mas ainda que o homem viva muitos anos e seja muito feliz, deve recordar-se que os dias de escuridão também serão muitos e que tudo o que está para vir é ilusão.
9Jovem, goza a tua mocidade e alegra-te na tua juventude. Segue os desejos do teu coração e aquilo que atrai o teu olhar. Mas fica sabendo que Deus te há de pedir contas de tudo isso11,9 Em algumas versões, o cap. 12 começa neste v. 9, que fica assim com mais dois versículos do que a contagem presente do texto hebraico..
10Afasta de ti as preocupações e deita fora os teus problemas, porque a mocidade e a meninice são passageiras.
121Lembra-te do teu Criador, enquanto fores jovem, enquanto não vierem os tempos difíceis e os anos em que vais dizer: «Não sinto gosto em viver.» 2Lembra-te dele enquanto não escurecer o Sol, a luz do dia, a Lua e as estrelas e enquanto não voltarem as nuvens, que hão de vir depois das chuvas12,2 Os v. 2–5 evocam o final da vida com imagens que podem ser interpretadas de várias maneiras, mas que representam o enfraquecimento e as doenças, de modo geral..
3Há de chegar o tempo em que terão medo aqueles que agora guardam o palácio, em que ficarão curvados os que agora são fortes; o tempo em que as mós do moinho serão poucas e param, e aqueles que agora olham pela janela vão perder a vista. 4Fecham-se as portas que dão para a rua, apaga-se o ruído das mós e, embora as aves cantem, já não se ouve o seu cantar. 5A altura começa a causar vertigens e os caminhos ficam cheios de perigos, enquanto a amendoeira começa a florir, o gafanhoto a engordar e a alcaparra a dar fruto. Mas o homem vai para a sua morada eterna. Os que acompanham o seu funeral já se juntaram na rua.
6Lembra-te do teu Criador, antes que se quebre o fio de prata, se despedace a taça de ouro, antes que o cântaro se quebre na fonte ou que a roda do engenho caia dentro do poço.
7Então o que é pó volta para a terra donde veio. E o sopro da vida volta para Deus, que a tinha dado.
8Eu, o sábio Qohelet, repito: «Tudo é ilusão, pura ilusão!»
9Quanto mais o sábio Qohelet crescia em sabedoria, mais ensinava. Além de ser um sábio, ensinava também o povo e conservou, estudou e inventou muitos provérbios. 10Tentou encontrar palavras apropriadas e escreveu a verdade com acerto.
11As palavras dos sábios são como um aguilhão e, reunidas num livro, são como estacas bem espetadas por um só pastor12,11 Ou: pelo único pastor (Deus)..
12Mas acima de tudo, meu filho, pensa bem nisto: escrever muitos livros é coisa que nunca mais tem fim e o muito estudo desgasta as forças.
13É tempo de concluir; já tudo foi dito. Respeita a Deus e guarda os seus preceitos. Isto é tudo para o homem. 14De facto Deus pedirá contas de todas as ações, mesmo quando feitas às ocultas, sejam boas, sejam más.