191O Senhor disse-me: «Entoa um cântico, para lamentar os príncipes de Israel.
2“Que bela leoa19,2 A leoa representa aqui quer a cidade de Jerusalém, quer a tribo de Judá. Ver Gn 49,9. era a tua mãe!
Ela alimentava os seus filhotes,
deitada entre os leões!
3Educou um dos leõezinhos e ensinou-o a caçar;
ele tornou-se um leão devorador de homens.
4As nações ouviram falar dele,
e atraíram-no a uma armadilha.
Amarraram-no e arrastaram-no para o Egito.
5A mãe aguardou até perder as esperanças;
em seguida criou outro dos seus filhotes,
que por sua vez se fez um forte leão.
6Quando atingiu a idade adulta,
e se misturou com os outros leões,
também ele aprendeu a caçar
e a devorar homens.
7Invadiu as suas fortalezas
e devastou as suas cidades;
os habitantes do país ficavam aterrorizados
sempre que ele rugia.
8As nações uniram-se contra ele;
vieram de toda a parte.
Puseram-lhe laços e armadilhas
e ele foi apanhado.
9Meteram-no numa gaiola
e levaram-no preso ao rei da Babilónia19,9 Ver 2 Rs 24,15..
Puseram-no na cadeia,
para que nunca mais fosse rugir
nos montes de Israel.
10A tua mãe era como uma videira19,10 Sobre o simbolismo da vinha, ver 15,2 e nota.,
plantada à beira de um regato.
Em virtude de ali haver muita água,
a vinha cobriu-se de folhas e de fruto.
11Os seus ramos tornaram-se fortes como cetros reais.
A videira cresceu tanto que chegou até às nuvens;
toda a gente podia ver como era alta,
e como estava cheia de folhas.
12Mas foi arrancada violentamente,
e atirada ao chão.
O vento leste secou-lhe o fruto;
os seus fortes ramos ficaram secos,
como se o fogo os tivesse devorado.
13Agora está plantada num deserto,
em terra árida e sem água.
14A cepa da videira pegou fogo,
que lhe queimou os ramos e os frutos.
Os ramos nunca mais serão fortes,
nem poderão tornar-se cetros reais.”
Isto é uma lamentação e como tal será entoada.»
201Era o dia dez do quinto mês20,1 Entre julho e agosto do sétimo ano do reinado de Sedecias, em 591–590 a.C., do sétimo ano do nosso exílio. Alguns dos anciãos da comunidade israelita vieram consultar-me acerca da vontade do Senhor. 2Então o Senhor dirigiu-me a seguinte mensagem: 3«Homem20,3 Ver nota a 2,1., dirige-te a estes anciãos e diz-lhes que eu, o Senhor Deus, lhes declaro o seguinte: “Vocês vieram para saber a minha vontade, não é verdade? Pois, tão certo como eu ser o Deus da vida não vos deixarei perguntar coisa nenhuma. Palavra do Senhor!”
4E tu, homem, estás pronto a julgá-los? Então lembra-lhes as abominações que os seus pais cometeram. 5Conta-lhes o que te digo. Quando escolhi a Israel, e abençoei a família de Jacob, revelei-me a eles no Egito, e disse-lhes solenemente: “Eu sou o Senhor, vosso Deus!” 6Jurei solenemente, nesse dia, que havia de fazê-los sair do Egito e de os conduzir a uma terra que escolhi para eles20,6 Para os v. 5–6, ver Ex 6,2–8., uma terra onde o leite e o mel correm como água; na realidade, a melhor de todas as terras. 7Pedi-lhes que se desfizessem dos ídolos abomináveis que adoravam e que não se tornassem impuros com os falsos deuses do Egito, porque eu sou o Senhor, seu Deus. 8Porém eles revoltaram-se contra mim e recusaram-se a ouvir-me. Não se desfizeram dos ídolos abomináveis nem dos deuses egípcios. Cheguei a ponto de querer fazer-lhes sentir o peso da minha indignação, mesmo ali, no Egito. 9Mas não o fiz, pois isso teria trazido desonra ao meu nome, porque tinha já comunicado a Israel, na presença do povo entre o qual viviam, que os faria sair do Egito.
10Por isso, trouxe-os para fora do Egito, para o deserto. 11Dei-lhes os meus mandamentos e ensinei-lhes as minhas leis, que dão vida a quem as cumpre. 12Fiz da guarda do sábado um sinal da aliança entre mim e eles, para lhes lembrar que eu, o Senhor, faço deles um povo santo. 13Todavia, mesmo no deserto, os israelitas se revoltaram contra mim. Transgrediram as minhas leis e rejeitaram os meus mandamentos, que dão vida a quem os cumpre. Também profanaram os meus sábados. Cheguei a querer fazer-lhes sentir o peso da minha indignação, ali mesmo no deserto, e a destruí-los. 14Mas não o fiz, pois isso teria desonrado o meu nome na opinião dos povos que me viram tirar Israel para fora do Egito. 15Jurei então, ali no deserto, que não os levaria para a terra que lhes dera, uma terra onde corre leite e mel, na realidade, a melhor de todas. 16Procedi assim porque rejeitaram os meus mandamentos, transgrediram as minhas leis e profanaram os meus sábados, porque o seu coração pende para os seus ídolos. 17Tive, porém, pena deles. Decidi que não os mataria; não acabaria com eles ali no deserto20,17 Para os v. 13–17, ver Nm 14,1–4.20–30..
18Pelo contrário, admoestei os seus descendentes: “Não sigam as leis que os vossos antepassados fizeram; não imitem os seus costumes, nem se contaminem com os seus ídolos. 19Eu sou o Senhor, vosso Deus. Obedeçam às minhas leis e cumpram fielmente os meus mandamentos. 20Façam dos meus sábados dias santificados, para que sejam um sinal de aliança entre mim e vós, para que se saiba que eu sou o Senhor, vosso Deus.”
21Porém os seus filhos revoltaram-se contra mim e transgrediram as minhas leis. Não cumpriram os meus mandamentos, que dão vida a quem os cumpre; profanaram os meus sábados, a tal ponto que eu estava para descarregar sobre eles a minha indignação, ali no deserto, acabando com eles. 22Mas não o fiz, porque isso teria desonrado o meu nome diante dos povos que me viram tirar os israelitas do Egito. 23Jurei-lhes então, ali no deserto, que os espalharia por todo o mundo, exilando-os em terras estrangeiras. 24Isto, por terem rejeitado os meus mandamentos, transgredido as minhas leis, profanado os meus sábados e se terem voltado para os mesmos ídolos que os seus antepassados tinham servido. 25Dei-lhes então leis bastante duras e mandamentos que lhes tornavam a vida difícil20,25 Ezequiel faz alusão à lei que regulamentava as ofertas em favor dos primogénitos. Ver v. 26 e Ex 13,1. Ver também Ex 13,12–13.. 26Permiti que se profanassem a si mesmos com as suas ofertas, deixando-os sacrificar os seus filhos primogénitos. Procedi assim, para que se sentissem culpados e reconhecessem que eu sou o Senhor.
27Agora pois, Ezequiel, comunica aos israelitas que eu, o Senhor Deus, lhes quero dizer o seguinte: “Os vossos antepassados insultaram-me ainda doutra maneira e foram-me infiéis. 28Eu trouxe-os para a terra que lhes tinha prometido e eles, quando viram os altos montes e as árvores frondosas, ofereceram sacrifícios em todos esses lugares. Fizeram com que me zangasse por causa dos sacrifícios que queimaram, para agradar aos falsos deuses e pelas ofertas de vinho que aí apresentaram. 29Perguntei-lhes então que lugares altos eram aqueles para onde eles iam. Por isso, se chamam, desde então, lugares altos aos santuários pagãos.”
30Mostra agora aos israelitas o que eu, o Senhor Deus, tenho para lhes comunicar: “Por que haveis de cometer os mesmos crimes que os vossos pais cometeram, entregando-vos a esses ídolos imundos? 31Continuam ainda a oferecer as mesmas ofertas, e a contaminar-vos com os mesmos ídolos, sacrificando os vossos filhos e queimando-os no fogo. E ainda me vêm perguntar qual é a minha vontade, ó israelitas! Tão certo como eu ser o Senhor Deus da vida vos garanto que não vos deixarei perguntar mais nada. 32Tomaram a decisão de ser como as outras nações, como pagãos vivem nos outros países e adoram deuses de madeira e de pedra. Porém não vai ser como vocês querem.”»
33«Tão certo como eu ser o Senhor, Deus da vida vos garanto que, na minha indignação, vos hei de dominar com mão forte e com o meu imenso poder. 34Vou mostrar-vos o meu poder e a minha ira, quando vos reunir de novo e vos fizer voltar dos países, por onde vocês foram espalhados. 35Vou separar-vos dos outros povos e levar-vos para o deserto20,35 Ver Os 2,16.; ali sereis julgados frente a frente. 36Vou condenar-vos como condenei os vossos antepassados no deserto do Sinai. Palavra do Senhor!
37Vou guardar-vos com o meu cajado20,37 Ver 36,11–16. e obrigar-vos a cumprir as obrigações da minha aliança. 38Afastarei dentre vós aqueles que são rebeldes e maus. Retirá-los-ei da terra onde agora vivem, mas não permitirei que voltem à terra de Israel. Reconhecereis então que eu sou o Senhor.
39Ouçam agora o que vos digo, ó israelitas! Façam o que quiserem; continuem a adorar os vossos ídolos! Mas previno-vos que depois disto terão de me obedecer e deixar de desonrar o meu santo nome com as ofertas aos vossos ídolos. 40Na terra de Israel, no meu santo monte, no grande monte20,40 O grande monte. Conjunto de colinas sobre as quais está edificada Jerusalém. de Israel, todos os israelitas me hão de adorar. Aí vos acolherei com agrado e esperarei que me tragam os vossos presentes, as vossas melhores ofertas e tudo o que me consagrarem. 41Depois de vos trazer de volta dos países para onde vocês foram espalhados e de vos reunir de novo hei de aceitar com agrado os vossos sacrifícios, e as outras nações verão por isso que eu sou um Deus santo. 42Quando vos trouxer de volta a Israel, à terra que jurei dar aos vossos antepassados, vocês hão de ver então que eu sou o Senhor. 43Hão de lembrar-se de todo o mal que fizeram, profanando-se a si mesmos. Ficareis desgostosos convosco mesmos, por causa de todo o mal praticado. 44Quando eu vos tratar desta maneira, a fim de proteger o meu nome, vereis que eu sou o Senhor, porque não vos trato como merecem os vossos atos maus e corruptos. Palavra do Senhor Deus!»
211O Senhor dirigiu-me ainda a palavra e disse-me: 2«Homem21,2 Ver nota a 2,1., olha em direção ao sul. Dirige em meu nome uma mensagem contra o bosque do sul21,2 Provavelmente todo o país de Judá.. 3Diz a esse bosque que fica ao sul, que eu, o Senhor, lhe comunico o seguinte: “Ouve, ó bosque do sul! Vou deitar-te o fogo, que consumirá todas as tuas árvores, tanto as verdes como as secas. Nada o poderá apagar. Toda a gente, do sul ao norte, há de sofrer o calor das labaredas. 4Assim verão que eu, o Senhor, lhes pus fogo e que ninguém o pode apagar.”» 5Porém eu protestei e disse: «Ó Senhor Deus, não me mandes fazer tal coisa! Toda a gente diz já que só falo por parábolas!»
6Então o Senhor dirigiu-me a palavra e disse-me: 7«Homem, denuncia a Jerusalém, denuncia os lugares onde o povo presta culto. Previne a terra de Israel 8que eu, o Senhor, lhes declaro o seguinte: “Sou vosso inimigo. Puxarei da minha espada e vou matar-vos a todos, justos e maus. 9Farei uso da minha espada contra todos, desde o sul até ao norte.” 10Então toda a gente saberá que, se eu, o Senhor, puxei da minha espada não é para a pôr outra vez na bainha.
11E tu, homem, geme como se o teu coração estivesse despedaçado pelo desespero. Chora de tristeza num lugar onde todos te vejam. 12Quando te perguntarem por que choras, diz que é por causa das notícias sobre o futuro. Então os seus corações se encherão de temor, as suas mãos ficarão sem força, o seu ânimo vacilará e os seus joelhos tremerão. O que está para vir já está a chegar. Palavra do Senhor!»
13O Senhor dirigiu-me ainda esta mensagem: 14«Homem, fala ao povo em meu nome; anuncia que eu, o Senhor, tenho para lhe dizer o seguinte:
“Existe uma espada,
uma espada afiada e polida.
15Está afiada para matar,
e polida a brilhar como um relâmpago.
Haverá motivo para alegria?
É que o meu povo desprezou
o pau que o castigava21,15 Ou: O cetro do meu filho desprezou qualquer árvore.!
16A espada está a ser polida
pronta para ser usada.
Está afiada e polida,
para ser entregue nas mãos de quem vai matar.
17Chora e lamenta-te, homem,
que esta espada é para ferir o meu povo
e todos os chefes de Israel.
Vão ser todos mortos
com o resto do meu povo.
Batam com as mãos no peito, em desespero!
18Eu estou a pôr à prova o meu povo
e se recusarem arrepender-se,
todas estas coisas cairão sobre eles.
Palavra do Senhor!”»
19«Anuncia agora, Homem.
Bate palmas e a espada ferirá
à direita e à esquerda por três vezes.
É uma espada que mata, que semeia o terror
e não deixa ninguém escapar.
20Eis que ela ferirá em todas as casas do meu povo.
Fará com que ele perca o ânimo e tropece.
É uma espada que brilha como o relâmpago,
pronta para matar.
21Fere à direita e à esquerda, ó espada bem afiada!
Fere para onde te voltares!
22Também eu baterei as palmas,
e a minha indignação ficará satisfeita.
Palavra do Senhor!»
23O Senhor dirigiu-me a palavra e disse-me: 24«Ezequiel, traça duas estradas por onde o rei da Babilónia há de passar com a sua espada. Ambas devem partir do mesmo país. Coloca sinais com a direção de cada uma delas; 25uma deve levar o rei à cidade amonita de Rabá21,25 Rabá. Cidade capital dos amonitas, situada a leste do Jordão, a atual cidade de Amã.; a outra levá-lo-á até Judá, à cidade fortificada de Jerusalém. 26O rei da Babilónia encontra-se diante dos sinais, no lugar onde as estradas se separam. Para se decidir sobre qual estrada deve tomar, ele agita as flechas, consulta os seus ídolos familiares e examina o fígado dum animal21,26 Ezequiel enumera aqui as três maneiras de se praticar a adivinhação. Agitavam-se duas flechas num recipiente. Cada uma tinha uma determinada indicação; a que saía em primeiro lugar dava a resposta à pergunta feita. Podia-se também consultar os ídolos, ou examinar, segundo regras bem precisas, o fígado dos animais sacrificados.. 27A sua mão direita segura a flecha que diz “Jerusalém”. Isso mostra que deve seguir nessa direção e deve montar aríetes, soltar o grito de guerra, colocar os aríetes contra as portas e fazer rampas e baluartes. 28O povo de Israel não acreditará no que os seus olhos virem, porque se sentem protegidos por um acordo. Mas o rei lembra-lhes as suas más ações e avisa-os de que vão ser feitos prisioneiros. 29Pois eu, o Senhor Deus, vos declaro que as vossas más ações estão descobertas. Toda a gente sabe quão culpados sois. As vossas más ações são evidentes e o pecado está em cada procedimento vosso. Já que se fazem assim tanto notar, sereis feitos prisioneiros pelos vossos inimigos.
30E quanto a ti, infame e criminoso chefe de Israel21,30 Trata-se de Sedecias. Ver 2 Rs 25,4–7., chegou o dia do teu castigo. 31É o Senhor Deus quem o declara! Tira a tua coroa e o teu turbante. Nada voltará a ser como antes. O que era humilde fica engrandecido e o que era grande fica humilhado. 32Ruína, ruína! Sim, eis que faço a cidade em ruínas. Mas tal não acontecerá até que chegue aquele a quem eu concedi o poder de castigar a cidade. Então entregar-lha-ei21,32 O cumprimento deste castigo foi levado a efeito por Nabucodonosor. Ver 23,23–24..»
33«Homem, anuncia o que eu, o Senhor Deus, tenho para declarar aos amonitas21,33 Os amonitas eram aliados dos edomeus, dos moabitas, dos fenícios de Tiro e Sídon, bem como de Judá, na revolta contra a Babilónia, com a ajuda do Egito. Ver Jr 27,2–6., que insultam a Israel. Diz-lhes:
“Existe uma espada, pronta para destruir;
está afiada para matar,
e polida como um relâmpago a brilhar!
34As visões que tu tens são falsas e as adivinhações que fazes são mentiras. Tu és má e iníqua e o teu dia está a chegar, o dia do teu castigo final. A espada vai cair sobre o teu pescoço.
35Mete a espada na bainha! Vou castigar-te no lugar onde foste criada, na terra onde nasceste. 36Sentirás a minha indignação, quando fizer cair sobre ti o fogo da minha ira: entregar-te-ei nas mãos de homens violentos, peritos na destruição. 37Serás consumida pelo fogo; o teu sangue será derramado no teu país e nunca mais ninguém se lembrará de ti. Palavra do Senhor21,37 Para os v. 33–37, ver nota a Jr 49,1.!”»