31Diz o Senhor:
«Se o homem se divorciar da sua mulher
e ela o deixar para casar com outro,
o primeiro já não volta a recebê-la de novo.
Se tal acontecesse,
seria uma corrupção para o país.
Mas tu, ó Israel,
tiveste muitos amantes3,1 Ver nota a 2,2.,
e agora queres voltar para mim!
2Olha para o cimo dos montes3,2 Ali praticava-se o culto da fecundidade. Ver 2,20.:
Haverá algum lugar onde não te tenhas desonrado?
Puseste-te à espera dos teus amantes,
à beira da estrada,
como um nómada espreita as suas vítimas no deserto.
Com a tua prostituição e maldade,
espalhaste a corrupção no país.
3Por isso, faltou a chuva
e o orvalho não caiu.
Mas continuavas obstinada na prostituição,
sem te arrependeres disso3,3 Ver Am 4,7–8..
4E agora dizes-me: “Tu és o meu pai
e o meu amigo de infância.
5Não vais ficar irado comigo para sempre.”
Porém tu dizes isso,
tendo feito todo o mal que pudeste.»
6No tempo do rei Josias, o Senhor disse-me: «Viste o que Israel fez, como uma mulher infeliz? Deixou-me, e foi-se entregar como prostituta3,6 Josias foi rei de Judá de 640 a 609 a.C. Ver nota a 1,2. Israel designa aqui o reino do Norte. O povo de Deus é comparado a uma mulher infeliz. Os reinos de Israel e de Judá são comparados a duas irmãs. Ver Ez 23. Prostituta. Ver 2,2 e nota., ao culto dos ídolos no cimo dos montes, e debaixo de qualquer árvore.
7Esperei que, depois de tudo isso, ela voltaria para mim. Mas não. E a sua infiel irmã, Judá, estava a par de tudo. 8Judá também viu que me divorciei de Israel, e a mandei embora, porque ela me deixou e se fez prostituta3,8 Ver Dt 24,1–2; Is 50,1. O profeta alude à ruína de Samaria em 721 a.C. Ver 2 Rs 17.. Porém Judá, a irmã infiel de Israel, não teve medo e entregou-se à mesma prostituição. 9Não teve vergonha nenhuma. Corrompeu a terra, e cometeu adultério, ao prestar culto às imagens de pedra e aos ídolos das árvores. 10Em seguida, Judá, a irmã infiel de Israel, fingiu que voltava para mim; mas não foi sincera. Sou eu, o Senhor, que to digo.»
11Então o Senhor disse-me que, embora Israel se tivesse afastado, tinha acabado por se mostrar mais fiel do que a traidora Judá. 12E mandou-me dirigir este apelo a Israel:
«Ó Israel, infiel, volta para mim.
Eu terei misericórdia e não ficarei irado;
não ficarei irado contigo para sempre.
Sou eu, o Senhor, que to digo.
13Só te peço que reconheças a tua culpa,
que te revoltaste contra o Senhor, teu Deus.
Correste atrás dos ídolos,
debaixo de árvores frondosas
e não obedeceste à minha vontade.
14Voltem para mim, ó filhos infiéis; é a mim que pertencem! Sou eu, o Senhor, que o digo. Irei buscar uma pessoa numa cidade e duas outras numa família, para vos fazer voltar ao monte Sião. 15Dar-vos-ei chefes que me obedeçam e que vos dirigirão com sabedoria e entendimento.
16E quando o vosso número aumentar bastante no país, não se falará mais na arca da aliança3,16 Arca da Aliança. Ver Sl 132,6–7 e nota. do Senhor. Nunca mais se lembrarão, nem quererão falar acerca dela; não terão necessidade dela, nem farão outra para a substituir. 17Quando esses dias chegarem, Jerusalém será chamada “o trono do Senhor” e os pagãos virão ali, para me adorarem. Deixarão de seguir os seus corações teimosos e maus. 18Judá juntar-se-á a Israel e ambos regressarão do exílio à terra que dei para sempre aos vossos antepassados.»
19«Eu, o Senhor, dizia para comigo:
Ó Israel, eu queria fazer de ti o meu filho
e dar-te uma terra aprazível,
a mais bela terra do mundo.
O meu desejo era que me chamasses pai,
e que nunca mais me deixasses.
20Mas tal como uma esposa infiel,
assim tu me atraiçoaste, ó povo de Israel.
Sou eu, o Senhor, que to digo.
21Ouvem-se vozes no cimo dos montes3,21 Ver v. 2 e nota.;
é o povo de Israel a chorar e a pedir misericórdia,
porque seguiram por maus caminhos
e esqueceram o Senhor, seu Deus.
22Voltem para mim, ó filhos pródigos;
eu vou curar-vos e ajudar-vos a ser fiéis.
E respondem-me: “Sim, nós voltamos para ti, Senhor,
porque tu és o nosso Deus.
23Realmente, não recebemos benefício nenhum
quando prestámos culto aos ídolos no cimo dos montes.
Pois só do Senhor, nosso Deus,
Israel pode receber ajuda.
24Mas desde a nossa infância, o vergonhoso culto a Baal
fez-nos perder os rebanhos, os filhos e as filhas3,24 Filhos e filhas. Alusão aos sacrifícios de crianças, oferecidos na religião cananeia. Ver Jr 7,31; 19,5; 22,3; Dt 18,10; 2 Rs 16,3; 17,17; 21,6; Sl 106,38.,
tudo o que os nossos antepassados nos deixaram.
25Devíamos prostrar-nos de vergonha
e deixar que a nossa desgraça nos cobrisse.
Nós e os nossos antepassados, desde sempre,
pecámos contra o Senhor, nosso Deus;
não obedecemos às suas ordens.”»
41«Se te quiseres arrepender, ó Israel,
volta para mim.
Se deixares os ídolos que detesto,
não precisarás de andar sem rumo.
Palavra do Senhor!
2Se fores honesto e sincero,
poderás prestar juramento em nome do Senhor;
e os pagãos pedirão a minha bênção
e se sentirão felizes por isso.»
3Assim fala o Senhor a Judá e a Jerusalém:
«Lavrem os vossos terrenos incultos;
não semeiem no meio dos cardos4,3 Ver Os 10,12..
4Façam uma circuncisão
que afaste todo o mal do vosso coração,
ó habitantes de Judá e Jerusalém.
Se não, a minha ira se fará sentir
por causa das vossas transgressões;
o meu fogo vos consumirá
e ninguém o poderá apagar.»
5«Mandem ressoar a trombeta por todo o país!
Proclamem de maneira que se ouça bem
e digam aos habitantes de Judá e de Jerusalém
que corram para as cidades fortificadas.
6Deem o sinal de alarme a Sião!
Corram sem demora, pela vossa segurança!
Que eu vou mandar vir do norte4,6 Ver 1,14 e nota.
desgraças e grande destruição.
7O destruidor das nações acometerá
como um leão4,7 Ver Dn 7,4. que sai do covil.
Vem destruir a tua terra,
deixando em ruínas as tuas cidades,
e ninguém morará nelas.
8Vistam-se de luto4,8 Ver Is 22,12. e chorem em altos gritos,
porque Judá não escapará à ira do Senhor.
9Nesse dia, os reis e os membros do governo
perderão a sua coragem.»
Palavra do Senhor!
«Os sacerdotes ficarão pasmados
e os profetas admirados.
10Então eles replicarão:
“Ó Senhor, Deus, enganaste redondamente os habitantes de Jerusalém4,10 Ver Is 63,17.!
Disseste que teriam paz,
mas puseste a espada contra as suas gargantas.”
11Há de chegar o dia em que se dirá
aos habitantes de Jerusalém,
que um vento abrasador
sopra do deserto contra o meu povo.
Não será uma brisa suave
como a que limpa o trigo4,11 Para limpar o trigo atirava-se ao ar, com uma forquilha, a mistura de grão e de palha; o vento levava a palha deixando cair o grão..
12É um vento mais forte
que virá por minha ordem
e com o qual julgarei este povo.»
13«Eis que o inimigo se aproxima
como se fosse uma nuvem.
Os seus carros de guerra são como um ciclone,
e os seus cavalos mais velozes do que águias.
Estamos perdidos!
Não conseguiremos escapar!»
14«Ó Jerusalém, limpa a maldade do teu coração,
para poderes ser salva.
Até quando abrigarás dentro de ti
os teus maldosos pensamentos?
15Ouçam as más notícias que vêm de Dan
e das montanhas de Efraim4,15 Dan. Tribo de Israel situada próxima da nascente do Jordão. Montanhas de Efraim. Zona montanhosa entre Siquém e Betel, no centro da Palestina..
16Proclamem a toda a gente,
anunciem a Jerusalém
que o inimigo vem de um país longínquo,
lançando o grito de ataque contra as cidades de Judá.
17Cercarão Jerusalém,
como homens de guarda a um campo,
porque os seus habitantes se mostraram rebeldes.
Palavra do Senhor!
18Atraíste sobre ti tudo isto,
devido ao teu comportamento e à tua maldade.
A tua rebeldia produziu sofrimento;
feriu o teu coração.»
19O meu coração parte-se de dor!
O meu peito está apertado pelo sofrimento.
Não consigo sossegar por um momento,
porque ouço o toque das trombetas e os gritos de guerra!
20É calamidade atrás de calamidade:
todo o país está em ruínas.
As nossas tendas foram subitamente deitadas por terra,
e os nossos abrigos destruídos.
21Até quando terei de ver o estandarte de guerra
e ouvir o toque das trombetas?
22«O meu povo é estúpido: não me conhece.
É como uma criança sem tino;
não tem entendimento.
É perito em fazer o mal,
mas não sabe fazer o que é bem.»
23Vejo a terra desolada4,23 Terra desolada. A mesma expressão é usada em Gn 1,2.; o céu está sem luz.
24As montanhas tremem,
e as colinas fogem de um lado para o outro.
25Vejo que já não há ninguém;
até as aves desapareceram do céu.
26Vejo a terra fértil transformada num deserto;
as cidades ficaram em ruínas
por causa da terrível ira do Senhor.
27Eis o que declara o Senhor:
«O país inteiro será um deserto árido
porém não o destruirei totalmente.
28A terra cobre-se de luto;
e o céu escurece.
O que eu decidi foi o que mandei que se cumprisse.
E não voltarei atrás na decisão que tomei.»
29Toda a gente se põe em fuga
ao ouvir o ruído dos cavaleiros e arqueiros.
Uns escondem-se na floresta,
outros fogem para os rochedos.
As cidades ficam desertas,
ninguém se atreve a ficar lá.
30Ó Jerusalém, tu estás perdida!
Por que te vestiste de púrpura?
Por que te adornaste com joias e pintaste os olhos?
Isso não serve para nada!
Os teus amantes rejeitaram-te
e agora tentam matar-te.
31Ouço gemidos, como duma mulher a dar à luz,
com as dores do primeiro parto.
É Jerusalém que geme e suplica, estendendo a mão:
«Estou perdida! Vão matar-me!»
51«Habitantes de Jerusalém,
percorram as vossas ruas!
Busquem por toda a parte!
Verifiquem, pelas praças,
para ver se encontram uma pessoa que faça o bem
e que procure ser fiel a Deus.
Se a encontrarem, perdoarei a Jerusalém.»
2Embora jurem em nome do Senhor vivo
o vosso juramento é mentiroso.
3Ó Senhor, o que tu procuras
é quem te seja fiel.
Tu castigaste-os, mas sem resultado;
feriste-os, mas eles recusaram aceitar a correção.
Ficaram mais duros que a pedra
e não quiseram arrepender-se.
4Disse então para comigo:
«São pobres ignorantes!
O seu comportamento é de gente louca.
Não conhecem a vontade do Senhor,
as exigências do seu Deus.
5Vou ter com os seus chefes e falarei com eles;
eles conhecem certamente a vontade do Senhor
e as exigências do seu Deus.»
Porém todos rejeitaram a autoridade do Senhor
e recusaram-se a obedecer-lhe.
6Por isso, leões sairão do bosque e os matarão;
lobos do deserto os despedeçarão,
e os leopardos atacarão as suas cidades.
Quem delas sair será despedaçado,
porque são muitos os seus pecados
e graves as suas transgressões.
7«Por que haveria eu de perdoar as transgressões do meu povo?
Ele abandonou-me e prestou culto a falsos deuses!
Dei de comer ao meu povo até o saciar,
mas ele tornou-se adúltero e frequentou cultos imorais5,7 Ver 2,20; 3,8 e respetivas notas..
8Ficaram como cavalos bem alimentados e cheios de cio,
cada qual cobiçando a mulher do próximo.
9Não devo eu castigá-los por causa disso
e vingar-me do povo que faz semelhantes coisas?
Palavra do Senhor!
10Venham os inimigos e arrasem o meu povo como uma vinha,
mas sem os destruírem totalmente.
Devem cortar todos os rebentos que não me pertencem5,10 Sobre a vinha, como imagem do povo de Deus, ver Is 5,1–7..
11Os habitantes de Israel e de Judá
traíram-me por completo.
Palavra do Senhor!»
12O povo renegou o Senhor e disse:
«Ele não vale nada. Não haverá problema;
nem guerra nem fome nos incomodarão!
13As palavras dos profetas são como o vento:
o que dizem não vale nada
e o mal que anunciam só a eles acontece.»
14O Senhor, Deus todo-poderoso, disse-me então:
«Jeremias, por causa do que este povo tem dito,
as minhas palavras serão como fogo na tua boca.
O povo será como madeira, e o fogo os consumirá.
15Eis que vou mandar contra vós um povo de longe,
para vos atacar, ó Israel!
É uma nação poderosa e antiga,
uma nação cuja língua não sabes falar,
nem percebes o que eles dizem.
16As suas flechas são morte certa
e todos eles são valentes soldados.
17Devorarão as tuas colheitas e a tua comida;
matarão os teus filhos e filhas;
dizimarão os teus rebanhos
e destruirão as tuas vinhas e figueiras.
As cidades fortificadas, nas quais pões a tua confiança,
serão destruídas pelo seu exército.
18Todavia, nesses dias, não exterminarei por completo o meu povo. Palavra do Senhor! 19Quando perguntarem por que fiz tudo isso, deves dizer-lhes que foi por se afastarem de mim e por servirem a outros deuses na sua terra; por isso terão de ir servir os estrangeiros numa terra que não é vossa.
20Fala aos descendentes de Jacob
e anuncia ao povo de Judá:
21“Prestem atenção, gente louca e insensata,
que têm olhos, mas não veem
têm ouvidos, mas não ouvem5,21 Comparar com Is 6,9–10; Ez 12,2; Mc 8,18.!”
22Por que não me respeitam,
nem a minha presença vos faz tremer?
Palavra do Senhor!
Não fui eu que pus a areia como limite do mar,
como fronteira que ele nunca pode atravessar?
O mar pode agitar-se, mas não passará dessa fronteira5,22 Comparar com Jb 38,8–11.;
as ondas podem rugir, mas não passarão aquele limite.
23Mas como povo teimoso e rebelde,
voltaram-me as costas e foram-se embora.
24Nunca reconheceram
que deviam respeitar o Senhor, vosso Deus,
que vos manda a chuva do outono e da primavera,
e vos garante, cada ano,
as semanas da colheita necessária.
25Pelo contrário, pelos vossos crimes e transgressões
afastaram toda a prosperidade do vosso meio.
26Há entre o meu povo homens maus,
que andam com armadilhas à espreita,
para ver se conseguem apanhar alguém.
27As suas casas estão cheias de rapina,
como uma gaiola cheia de aves.
Por isso, são ricos, poderosos,
28e anafados: nada lhes falta.
Não há limite para as suas más ações.
Não tratam os órfãos como devem,
nem reivindicam os direitos do necessitado.
29Mas eu, hei de castigá-los por tudo isso!
Este povo terá de pagar pelo que me fez!
Palavra do Senhor!
30Uma coisa horrível e espantosa
aconteceu nesta terra:
31os profetas só falam mentiras5,31 Ou: falam em nome dos falsos deuses.
os sacerdotes governam por interesse5,31 Ou: ao seu mando.
e o meu povo concorda com eles.
Mas como acabará tudo isso?»