341Eliú continuou a falar:
2«Escutem as minhas palavras, ó sábios;
ouçam-me, ó gente de experiência.
3Pois o ouvido distingue as palavras,
como o paladar aprecia o sabor das comidas34,3 Comparar com 12,11..
4Vamos então procurar ver o que é justo,
para ficarmos a saber o que é bom.
5Job declara: “Estou inocente;
mas Deus recusa-se a fazer-me justiça.
6Passo por mentiroso, mesmo tendo razão;
sou atingido pelas suas flechas,
sem ter culpa nenhuma.”
7Haverá alguém semelhante a Job?
Tem a boca cheia de insolências;
8junta-se aos malfeitores,
faz companhia aos criminosos,
9ao dizer: “O homem não ganha nada
em estar de bem com Deus.”
10Escutem-me então, gente insensata;
nem vos passe pela ideia que Deus pratique o mal
ou cometa qualquer injustiça!
11Deus paga ao homem conforme o que ele faz
e retribui-lhe conforme o seu comportamento34,11 Comparar com Sl 62,13..
12A verdade é que Deus não pratica o mal
e nunca distorce a justiça.
13Quem é que lhe entregou a terra?
Quem pôs o mundo inteiro ao seu cuidado?
14Se algum dia ele decidisse
deixar de dar a outros o seu sopro de vida,
15toda a Humanidade morreria imediatamente,
e os mortais voltariam a ser pó.
16Se tens inteligência, ouve isto,
presta atenção ao que te digo:
17“Aquele que odeia a justiça é que vai decidir?
Vais condenar aquele que é infinitamente justo?
18Quem é capaz de chamar canalha ao rei
e criminosos aos grandes34,18 Ver 2 Sm 19,22.?”
19Mas Deus não dá preferência aos poderosos,
nem favorece mais o rico do que o pobre,
pois ambos foram criados por ele.
20De repente, a meio da noite, a morte apanha-os;
os grandes são derrubados e desaparecem,
os poderosos são afastados sem esforço.
21Pois Deus observa o comportamento dos homens
e vê cada um dos seus passos.
22Os maus não encontram sombra nem escuridão,
para nelas se poderem esconder.
23Deus não marca uma data, para que o homem
compareça diante dele a julgamento.
24Desfaz os fortes sem procurar muito
e coloca outros no seu lugar.
25Porque Deus conhece o que eles fazem;
numa noite ele os derruba e destrói.
26Açoita-os como se fossem criminosos,
em público, à vista de todos.
27Pois eles viraram-lhe as costas
e não procuraram seguir os seus caminhos;
28obrigaram o pobre a pedir a ajuda de Deus
e ele acolheu o grito dos oprimidos.
29Porém se Deus ficasse parado, quem iria julgar?
Se ele desviasse o olhar, quem ia vigiar estas coisas
e observar os povos e a Humanidade,
30para fazer com que o ímpio
deixe de dominar o povo
e de o oprimir para seu proveito?
31Suponhamos que ele tinha dito a Deus:
“Estou arrependido; não volto a praticar o mal.
32Ensina-me tu, para que eu veja claro;
e se cometi algum erro, não volto a fazê-lo.”
33Será que quando discordas,
ele dá o castigo segundo a tua opinião?
Tu é que tens de responder e não eu.
Diz lá então o que pensas!
34Os homens sensatos e os sábios, que me escutam,
vão com certeza dizer-me:
35“Job não sabe o que está a dizer,
as suas palavras não têm sentido.
36Job devia ser posto à prova até ao fim34,36 Ou: Job devia ser submetido à última prova.,
porque as suas respostas são de um homem sem fé.
37Aos seus pecados acrescentou a revolta;
e pretende lançar a dúvida nos nossos espíritos,
multiplicando ataques contra Deus.”»
351Eliú continuou:
2«Achas razoável dizeres:
“Eu tenho razão contra Deus”
3e acrescentares ainda: “Que interesse tem para ti
e que mal me vem a mim do meu pecado35,3 Ou: Que mal me faz pecar ou não, se ele não toma em conta o meu pecado?”
4Pois eu quero dar-te a resposta,
a ti e aos teus companheiros.
5Olha com atenção para os céus;
vê como as nuvens estão longe de ti.
6Se cometeste pecados, nenhum mal fazes a Deus;
se multiplicas os teus crimes, nenhum prejuízo lhe causas.
7Se foste honesto, o que é que lhe podes dar?
Ou o que pode ele obter da tua mão?
8Só a um homem como tu afeta a tua maldade;
só a ti, mortal, afeta a tua justiça35,8 Sobre os v. 6–8, ver 22,2–3..
9Sob o peso da opressão, as pessoas lamentam-se
e gritam por socorro contra os poderosos.
10Mas ninguém pergunta: “Onde está Deus, que me criou,
que, durante a noite, nos restaura as forças,
11que nos ensina por meio dos animais do campo
e nos dá sabedoria pelas aves do céu35,11 Ou: que nos fez mais inteligentes que os animais do campo e mais sábios que as aves do céu.?”
12Alguns gritam e ele não responde,
diante da insolência dos maus.
13Pois Deus não dá ouvidos a quem não merece,
o Todo-Poderoso não faz caso deles.
14Tu dizes que não o consegues ver;
o caso está diante dele, por isso, espera por ele.
15Será que Deus não castiga com furor
nem presta especial atenção às maldades?
16Job só diz coisas sem sentido;
fala muito, mas sem saber o que diz.»
361Eliú continuou:
2«Tem paciência, que eu tenho mais a dizer-te,
tenho mais coisas a dizer em favor de Deus.
3Levantarei a voz em favor do Deus distante,
mostrando que o meu Criador é que tem razão.
4De facto, as minhas palavras não têm mentira;
é um homem honesto que está diante de ti.
5Deus é poderoso e forte
e despreza os que estão seguros da sua força.
6Não poupa a vida do criminoso,
mas faz justiça aos oprimidos.
7Não afasta o olhar dos que são justos;
fá-los sentar no trono como reis
e dá-lhes grandeza para sempre.
8Se eles se encontram presos
e a aflição os atormenta,
9é para lhes mostrar as suas ações,
o orgulho que os levou à revolta.
10Faz com que eles ouçam com atenção os seus avisos
e convida-os a renunciarem à maldade.
11Se fizerem caso e se submeterem,
os seus dias decorrerão em prosperidade
e os seus anos em bem-estar.
12Se o não fizerem, caem no abismo
e morrerão sem sequer dar por isso.
13Os malvados, quando Deus os agarra,
ficam enfurecidos e não pedem socorro.
14Morrem em plena juventude,
como jovens entregues à prostituição36,14 O termo hebraico utilizado refere-se a homens que praticavam a prostituição sagrada em templos pagãos. Ver 1 Rs 14,24; 22,47. O texto alude à morte precoce de certas vítimas da pederastia..
15Mas Deus salva o oprimido da opressão,
serve-se da desgraça para o avisar.
16Também a ti ele te evitou a aflição,
fazendo-te viver em lugar espaçoso
e a tua mesa transbordar de abundância36,16 Os v. 16–21 são de difícil compreensão, o que motiva sensíveis divergências de tradução..
17Mas mereceste ser condenado como criminoso,
com uma sentença que é perfeitamente justa36,17 Ou: Tinhas fartura de alimentos, ou: enquanto o direito e a justiça caíam por terra..
18Que a irritação te não leve a excessos,
nem te iludas com a ideia de subornar a Deus.
19Pensas que os teus protestos e esforços
são capazes de atrapalhar o Deus forte?
20Não suspires para que a noite
venha tirar os povos do seu lugar.
21Guarda-te de te voltares para o mal,
pois foi por isso que te sobreveio a aflição.»
22«Vê como Deus é sublime no seu poder!
Que mestre se lhe pode comparar?
23Quem se atreve a dar-lhe regras de conduta?
Quem lhe vai dizer: “Fizeste mal”?
24Lembra-te de celebrar as suas obras,
que outros antes já cantaram36,24 Ou: que os homens puderam contemplar..
25Toda a Humanidade o viu;
toda a gente olhava desde longe.
26Deus é demasiado grande para o compreendermos;
o número dos seus anos é insondável.
27Ele vai soltando as gotas de água,
que caem como chuva do seu reservatório,
28escorrendo lentamente das nuvens
ou caindo em bátegas sobre a terra.
29Quem pode compreender a marcha das nuvens,
o ecoar dos trovões no interior da sua tenda?
30Sobre as nuvens, Deus faz brilhar o relâmpago,
que põe a descoberto até o fundo dos mares.
31É com a chuva que ele alimenta os povos
e lhes dá comida em abundância.
32Nas suas mãos ele esconde os raios
e ele mesmo lhes marca o alvo a atingir.
33O trovão anuncia a sua chegada
e o rebanho pressente a tempestade.»