Paulo chegou às cidades de Derbe e Listra. Havia lá um crente chamado Timóteo, filho duma judia cristã, mas de pai grego. Todos os crentes de Listra e de Icónio diziam muito bem dele. Paulo queria levar Timóteo e por isso mandou-o circuncidar. Fez isto por causa dos judeus que viviam naquela região, e todos sabiam que o pai de Timóteo era grego. Por todos os lugares por onde passavam, comunicavam aos crentes as decisões que os apóstolos e os presbíteros de Jerusalém tinham tomado, e aconselhavam-nos a cumpri-las. Assim, as igrejas iam-se tornando mais firmes na fé e o número de cristãos aumentava de dia para dia.
Paulo e Silas percorreram a região da Frígia e Galácia, uma vez que o Espírito Santo não os deixou pregar a palavra de Deus na província da Ásia. Quando chegaram à fronteira de Mísia, tentaram ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não os deixou. Atravessaram então a Mísia e foram até ao porto de Tróade. Durante a noite, Paulo teve uma visão. Viu um homem da Macedónia, de pé, que lhe pedia: «Vem à Macedónia ajudar-nos!» Logo a seguir à visão de Paulo, preparámo-nos para partir imediatamente para a Macedónia, convencidos de que Deus nos estava a chamar para lá irmos anunciar o evangelho.
Embarcámos, por isso, em Tróade e fomos diretamente até à ilha de Samotrácia. No outro dia, chegámos ao porto de Neápoles. Dali seguimos para Filipos, que é uma colónia romana e a cidade mais importante desta parte da Macedónia. Passámos lá alguns dias. No sábado, saímos da cidade e fomos para a beira do rio, a um lugar onde pensávamos que os judeus costumavam ir orar. Sentámo-nos ali e começámos a conversar com as mulheres que ali estavam reunidas. Uma delas, chamada Lídia, ouvia-nos com muita atenção. Era comerciante de tecidos finos e natural da cidade de Tiatira. Lídia acreditava em Deus e o Senhor abriu-lhe o entendimento para compreender o que Paulo dizia. Ela e as pessoas da sua família foram batizadas. Então Lídia fez-nos este pedido: «Se acham que eu realmente creio no Senhor, venham ficar a minha casa.» E insistiu para lá ficarmos.
Certo dia, quando íamos a caminho do lugar de oração, veio ao nosso encontro uma rapariga que tinha um espírito mau que adivinhava. Como era escrava, os donos ganhavam muito dinheiro com as suas adivinhações. A rapariga começou a seguir atrás de Paulo e de nós, gritando: «Estes homens são servos do Deus altíssimo e vêm mostrar-vos o caminho da salvação.» Fez isto durante vários dias. Então Paulo, já irritado, virou-se para ela e disse àquele espírito: «Em nome de Jesus Cristo, ordeno-te que saias dela!» E no mesmo instante, o espírito saiu. Quando os donos da escrava viram que já não podiam fazer mais negócio com as adivinhações, agarraram Paulo e Silas e levaram-nos à praça pública, à presença das autoridades. Quando os apresentaram aos oficiais romanos, disseram: «Estes homens andam a perturbar a nossa cidade. Como são judeus, ensinam costumes que nós, romanos, não podemos aceitar nem praticar.» Então a multidão levantou-se contra eles e os oficiais deram ordens para lhes tirarem as roupas e os castigarem. Bateram-lhes muito e depois meteram-nos na cadeia, dando ordens ao carcereiro para os guardarem com toda a segurança. O carcereiro, quando recebeu esta ordem, levou-os para o fundo da cadeia e prendeu-lhes os pés a um cepo de madeira. Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, enquanto os outros presos os escutavam. De repente, o chão tremeu tanto que abalou os alicerces da prisão. Nisto, todas as portas se abriram e as correntes que prendiam os presos soltaram-se. O carcereiro acordou e, quando viu que as portas da prisão estavam abertas, puxou da espada para se matar, porque pensou que os presos tinham fugido. Mas Paulo gritou-lhe bem alto: «Não faças isso! Estamos todos aqui!» Então o carcereiro pediu uma luz, entrou a correr e, todo a tremer, curvou-se aos pés de Paulo e de Silas. Depois levou-os para fora e perguntou: «Senhores, o que é que eu devo fazer para ser salvo?» «Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua família», responderam eles. E anunciaram então a palavra do Senhor ao carcereiro e a todos os que estavam em sua casa. Mesmo àquela hora da noite, o carcereiro levou-os da cadeia para lhes tratar das feridas. Logo a seguir, ele e toda a sua família foram batizados. Levou por fim Paulo e Silas para sua casa e deu-lhes de comer. Tanto o carcereiro como a sua família ficaram muito contentes por terem crido em Deus.
Quando amanheceu, os oficiais romanos mandaram os seus guardas dizer ao carcereiro para os soltar. O carcereiro disse a Paulo: «Os oficiais mandaram-me soltar-vos. Por isso, podem sair em paz.» Mas Paulo respondeu aos guardas: «Mandaram castigar-nos em público, sem sermos julgados — nós que somos cidadãos romanos! Depois meteram-nos na cadeia e agora querem soltar-nos às escondidas? Isso não! Que venham os próprios oficiais romanos tirar-nos daqui» Os guardas foram dizer isso aos oficiais. E quando estes souberam que Paulo e Silas eram cidadãos romanos, ficaram assustados. Foram pessoalmente pedir-lhes desculpa, puseram-nos em liberdade e rogaram-lhes que saíssem da cidade. Paulo e Silas saíram da prisão e foram a casa de Lídia. Depois de verem os irmãos e de os encorajarem, foram-se embora.
Paulo e Silas passaram pelas cidades de Anfípole e Apolónia e chegaram a Tessalónica, onde havia uma sinagoga dos judeus. Como era seu costume, Paulo foi lá e durante três sábados falou com eles sobre a Sagrada Escritura. Ia-lhes explicando que o Messias tinha de sofrer e que, depois de morrer, tinha de ressuscitar. E dizia-lhes: «Este Jesus que eu vos estou a anunciar é o Messias.» Alguns judeus ficaram convencidos e logo se juntaram a Paulo e Silas, bem como um grande número de gregos adeptos da religião judaica e muitas mulheres importantes.
Mas os outros judeus ficaram cheios de inveja. Reuniram alguns homens maus entre os marginais e juntando muita gente provocaram uma desordem na cidade. Os agitadores assaltaram a casa de Jasão à procura de Paulo e Silas, para os entregarem ao tribunal do povo. Como não os encontraram lá, levaram Jasão e alguns outros cristãos à presença das autoridades da cidade, enquanto gritavam: «Esses homens que têm provocado desordens por toda a parte estão agora na nossa cidade e Jasão recebeu-os em sua casa. Todos esses indivíduos desprezam as leis do imperador, pois dizem que há outro rei, chamado Jesus.» Quando a multidão e as autoridades ouviram isto, ficaram tão impressionadas que obrigaram Jasão e os outros a pagar uma multa estipulada antes de os soltarem.
Logo que anoiteceu, os irmãos fizeram seguir Paulo e Silas para a cidade de Bereia. Quando lá chegaram, foram à sinagoga dos judeus. Os judeus dali eram mais bem formados do que os de Tessalónica, pois receberam a mensagem com muito boa vontade, e todos os dias estudavam a Sagrada Escritura para verem se o que Paulo dizia era mesmo assim. Deste modo, muitos deles tornaram-se crentes, e entre esses um grande número de gregos e gregas da alta sociedade. Mas quando os judeus de Tessalónica souberam que Paulo estava a pregar a palavra de Deus em Bereia, foram lá agitar e amotinar o povo contra ele. Os irmãos mandaram imediatamente Paulo em direção ao mar, enquanto Silas e Timóteo ficavam em Bereia. Os que acompanhavam Paulo, levaram-no até à cidade de Atenas. Depois voltaram para Bereia, com um recado de Paulo para que Silas e Timóteo fossem ter com ele a Atenas, o mais depressa possível.
Enquanto esperava em Atenas por Silas e Timóteo, Paulo sentia-se revoltado ao ver a cidade tão cheia de ídolos. Por isso discutia na sinagoga com os judeus e com os simpatizantes do Judaísmo. E, na praça pública, falava todos os dias com os que lá apareciam. Alguns filósofos epicuristas e estoicos trocavam impressões com ele. Uns diziam: «Que é que este fala-barato quererá dizer?» Outros afirmavam: «Parece que é propagandista de outros deuses.» Diziam isto porque Paulo lhes anunciava a boa nova acerca de Jesus e da ressurreição. Então levaram-no a uma reunião num lugar chamado Areópago e perguntaram-lhe: «Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? O que nos dizes é muito estranho e gostaríamos de saber o que isso quer dizer!» De facto, tanto os atenienses como os estrangeiros que viviam em Atenas passavam o tempo a ouvir e a contar as últimas novidades.
Então Paulo pôs-se de pé diante da Assembleia do Areópago e disse: «Atenienses, vejo que são em tudo muito religiosos. Com efeito, quando dei uma volta pela cidade e vi os vossos monumentos religiosos, reparei num altar que tinha estas palavras escritas: “Ao Deus desconhecido.” Pois bem, esse Deus que adoram sem o conhecer, é o Deus de que eu vos falo. É o Deus que fez o mundo e tudo o que nele se encontra, e é o Senhor do Céu e da Terra. Não habita em templos feitos pelos homens, nem precisa que os homens lhe façam coisa nenhuma, pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e tudo o mais. Deus criou primeiro um homem e desse vieram todas as raças humanas que vivem no mundo inteiro. Foi ele mesmo quem marcou os tempos e os lugares onde os povos deviam morar. Fez isso para que o pudessem procurar e se esforçassem por encontrá-lo. De facto, ele não está longe de cada um de nós. É nele que temos a vida, nele nos movemos e existimos. Como alguns dos vossos poetas também disseram: “Nós até somos da família de Deus.” Sendo nós então da família de Deus, não devemos pensar que Deus seja parecido com uma imagem de ouro, de prata ou de pedra, feita pela arte e pela imaginação dos homens. Deus passou por cima da ignorância das pessoas, até aos dias de hoje. Mas agora, ele ordena que toda a gente, em toda a parte, se arrependa dos seus pecados. Marcou um dia para julgar o mundo com justiça, por meio dum homem a quem designou e deu autoridade diante de todos, ressuscitando-o de entre os mortos.»
Quando o ouviram falar na ressurreição, houve uns que troçaram e outros disseram: «Havemos de ouvir-te falar disso, noutra altura.» Então Paulo foi-se embora. Alguns juntaram-se a Paulo e tornaram-se crentes. Entre estes estavam Dionísio, que era um dos membros do Areópago, uma mulher chamada Dâmaris e alguns mais.
Depois disto, Paulo saiu de Atenas e foi para a cidade de Corinto. Encontrou lá um judeu chamado Áquila, que era natural do Ponto e tinha acabado de chegar de Itália, com Priscila sua mulher. Tiveram que sair de Roma porque o imperador Cláudio tinha mandado embora de lá todos os judeus. Paulo foi visitá-los e, como era da mesma profissão de fazer tendas, ficou com eles para trabalharem juntos. Todos os sábados ele falava na sinagoga, procurando convencer tanto judeus como gregos.
Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedónia, Paulo dedicou-se por completo à pregação da palavra e dava testemunho diante dos judeus de que Jesus era o Messias. Mas eles voltaram-se contra Paulo e insultavam-no. Paulo então sacudiu a roupa, em sinal de protesto, e disse: «Que o vosso sangue recaia sobre as vossas cabeças. A minha responsabilidade para convosco está cumprida. De agora em diante vou procurar os não-judeus.» Dito isto, saiu dali e foi para casa de um certo homem, chamado Tício Justo, que era simpatizante do Judaísmo e que morava mesmo ao lado da sinagoga. E Crispo, o dirigente da sinagoga, acreditou no Senhor, bem como toda a sua família. Muitas outras pessoas da cidade de Corinto ouviram a mensagem de Paulo, creram no Senhor e foram batizadas.
Uma noite, o Senhor disse a Paulo numa visão: «Não tenhas medo! Continua a pregar e não te cales, porque eu estou contigo. Ninguém te poderá fazer mal, porque tenho muita gente comigo nesta cidade.» Então Paulo ficou em Corinto durante ano e meio a ensinar ali a palavra de Deus.
Mas quando Galião se tornou governador romano da Acaia, os judeus juntaram-se contra Paulo, levaram-no ao tribunal e disseram ao governador: «Este homem anda a convencer as pessoas de que devem adorar a Deus duma maneira que é contra a lei!» Paulo ia a começar a falar, quando Galião disse aos judeus: «Se se tratasse de alguma injustiça, ou de algum crime grave, seria meu dever escutar as vossas queixas, ó judeus. Mas como se trata de uma questão de palavras, de nomes e da vossa própria lei, resolvam lá o assunto uns com os outros. Eu é que não quero ser juiz em questões dessas!» E mandou-os pôr fora do tribunal. Eles então agarraram Sóstenes, dirigente da sinagoga, e começaram todos a bater-lhe, mesmo ali diante do tribunal. Porém Galião não se importou nada com isso.
Paulo ainda ficou bastante tempo em Corinto. Depois, despediu-se dos irmãos e embarcou para a Síria, levando com ele Priscila e Áquila. Em Cêncreas, antes de embarcar, rapou a cabeça, para cumprir uma promessa que tinha feito. Quando chegaram à cidade de Éfeso, Paulo deixou ali Priscila e Áquila. Foi à sinagoga e falou com os judeus que lá se reuniam. Estes pediram a Paulo que ficasse mais tempo, mas ele não concordou. No entanto, quando se foi embora, disse-lhes: «Eu voltarei cá, se Deus quiser.» Partiu de Éfeso e desembarcou em Cesareia. Dirigiu-se logo para Jerusalém, cumprimentou os irmãos daquela igreja e seguiu para Antioquia da Síria. Depois de passar ali algum tempo, foi-se embora outra vez e percorreu as regiões da Galácia e da Frígia, animando todos os discípulos.
Entretanto, chegou a Éfeso um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria. Era um bom pregador e conhecia muito bem a Sagrada Escritura. Estava instruído no Caminho do Senhor, falava com entusiasmo e ensinava de uma forma muito exata acerca de Jesus, ainda que só conhecesse o batismo de João. Apolo pôs-se a falar na sinagoga com toda a coragem. Mas quando Priscila e Áquila o ouviram, resolveram levá-lo para casa e explicaram-lhe melhor o Caminho de Deus. Então Apolo decidiu ir para a Acaia e os irmãos encorajaram-no, escrevendo aos discípulos de lá a pedirem que o recebessem bem. Quando chegou à Acaia, foi de grande ajuda para aqueles que Deus na sua graça tinha tornado crentes, pois demonstrava diante de todos o erro dos judeus. Apresentava razões que eles não podiam negar e provava com base na Sagrada Escritura que Jesus era o Messias.
Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo viajou pelo interior e chegou a Éfeso. Encontrou lá uns discípulos e perguntou-lhes: «Receberam o Espírito Santo, quando aceitaram a fé?» Eles responderam: «Nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo!» Paulo perguntou ainda: «Então que batismo receberam?» E eles responderam: «O batismo de João Batista.» Paulo explicou: «O batismo de João era para as pessoas se arrependerem do mal, mas ele também dizia ao povo que devia crer naquele que havia de vir depois dele, quer dizer, em Jesus.» Depois de ouvirem isto, foram batizados em nome do Senhor Jesus. E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles e começaram a falar línguas desconhecidas e a profetizar. Eram ao todo uns doze homens.
Durante três meses, Paulo ia à sinagoga e lá falava com toda a convicção, procurando convencê-los acerca do reino de Deus. Mas alguns mostravam-se renitentes, não acreditavam e diziam mal do Caminho do Senhor diante da multidão. Então Paulo separou-se deles e passou a reunir-se com os discípulos na escola de um homem chamado Tirano, onde pregava e ensinava todos os dias. Fez isto durante dois anos, de modo que todo o povo que morava na região da Ásia, tanto judeus como não-judeus, ouviram a palavra do Senhor.
Deus fazia milagres extraordinários por meio de Paulo. Até levavam os lenços e as roupas que Paulo tinha usado, para com eles tocarem nos doentes, e eles ficavam curados das doenças que tinham e os espíritos maus saíam deles. Alguns judeus que andavam de terra em terra a expulsar espíritos maus quiseram usar o nome do Senhor Jesus para expulsar os espíritos maus dos doentes e diziam aos espíritos: «Em nome de Jesus, aquele que Paulo anuncia, ordeno-vos que saiam!» Entre os que andavam a fazer isto havia sete filhos de um judeu chamado Escevas, que era chefe dos sacerdotes. Mas um espírito mau respondeu-lhes: «Conheço Jesus e sei quem é Paulo. Mas vocês, quem são?» Então o homem possuído do espírito mau atirou-se a eles, bateu-lhes tanto que eles tiveram de fugir daquela casa muito feridos e quase nus. Todos os que moravam em Éfeso, judeus e não-judeus, souberam disto e ficaram cheios de medo. O nome do Senhor Jesus tornou-se mais respeitado ainda. Então muitos dos que passaram a crer no Senhor proclamavam a sua fé e confessavam o mal que tinham feito. Muitos daqueles que praticavam bruxarias juntaram-se e levaram os seus livros para os queimarem à vista de todos. Calculou-se o valor dos livros queimados em cinquenta mil moedas de prata. Era assim que com o poder do Senhor a sua palavra se espalhava e fortalecia cada vez mais.
Depois destes acontecimentos, Paulo resolveu ir a Jerusalém, passando pela Macedónia e pela Acaia, e dizia: «Depois de ir a Jerusalém, tenho de ir também a Roma.» Mandou então à Macedónia dois dos seus colaboradores, Timóteo e Erasto, enquanto ele ficou ainda algum tempo na Ásia.
Foi nessa ocasião que houve grande alvoroço na cidade de Éfeso, por causa do Caminho do Senhor. Um ourives, chamado Demétrio, fazia pequenos modelos de prata do templo da deusa Ártemis e o seu negócio dava muito lucro aos que trabalhavam com ele. Então ele reuniu-os todos, juntamente com outros que trabalhavam em ofícios semelhantes, e disse-lhes: «Amigos, sabem que o nosso bem-estar vem deste ofício. Mas como veem e ouvem dizer, esse Paulo afirma que os deuses que os homens fabricam não são deuses verdadeiros. E com isso, ele já convenceu e desviou muita gente, não só aqui em Éfeso como em quase toda a Ásia. Ora o que está a acontecer é muito perigoso, porque não só o nosso negócio corre o risco de cair em descrédito, mas até o templo da grande deusa Ártemis pode perder toda a fama que tem, e vir a ser desprezada a grandeza desta deusa, que é reconhecida em toda a região da Ásia e em todo o mundo.»
Ao ouvirem estas palavras, ficaram furiosos e puseram-se a gritar: «Viva a Ártemis dos Efésios!» A confusão espalhou-se por toda a cidade e a multidão dirigiu-se em massa para o teatro, arrastando com eles os macedónios Gaio e Aristarco, companheiros de Paulo na viagem. Paulo queria apresentar-se diante da assembleia do povo, mas os crentes não o deixaram. Alguns dos chefes da Ásia, amigos de Paulo, também lhe mandaram recado, pedindo que não entrasse no teatro. Entretanto, reinava a confusão na assembleia, porque uns gritavam uma coisa, outros gritavam outra. A maior parte nem sabia por que se tinham reunido. Os judeus empurraram Alexandre para a frente da assembleia e alguns da multidão explicavam-lhe o que ele havia de dizer. Alexandre fez sinal com a mão a pedir silêncio para falar. Mas quando souberam que ele era judeu, puseram-se todos a gritar as mesmas palavras durante quase duas horas: «Viva a Ártemis dos Efésios!» Então o secretário do município conseguiu acalmar o povo e disse: «Homens de Éfeso, toda a gente sabe que a nossa cidade é a protetora do templo da grande deusa Ártemis e da sua imagem que caiu do céu. Como isto é uma coisa que ninguém pode negar, acalmem-se e não façam nada precipitadamente. Trouxeram aqui estes homens, mas eles não profanaram o templo nem disseram nada de mal contra a nossa deusa. Se Demétrio e os que trabalham com ele têm alguma coisa contra alguém, para isso há tribunais e há juízes. Eles que apresentem lá as suas acusações. Mas se houver qualquer outra questão a debater, ela terá de ser resolvida numa assembleia legal. Nós até corremos o risco de ser acusados de revoltosos, por causa do que aconteceu hoje, visto que não há razão nenhuma que se possa dar para justificarmos todo este alvoroço.» Depois de dizer isto, deu por terminada a reunião.
Quando acabou o alvoroço, Paulo mandou chamar os discípulos para lhes dar alguns conselhos. Depois despediu-se deles e seguiu para a Macedónia. Visitou aquela região, encorajando os crentes com as suas palavras. Por fim chegou à Acaia, onde ficou três meses. Estava a preparar-se para embarcar para a Síria quando soube que os judeus faziam planos contra ele. Resolveu então voltar pelo caminho da Macedónia. Foram com ele Sópatro, filho de Pirro, da cidade de Bereia, Aristarco e Segundo, os dois de Tessalónica, Gaio, de Derbe, Timóteo e ainda Tíquico e Trófimo, que eram da região da Ásia. Aliás, estes cristãos foram adiante e esperaram por nós na cidade de Tróade. Depois das festas da Páscoa, embarcámos no porto de Filipos e cinco dias mais tarde já estávamos com eles em Tróade. Ficámos aí uma semana.
No domingo, juntámo-nos para a refeição em comum. Paulo, que devia partir no dia seguinte, falou aos crentes e prolongou a pregação até à meia-noite. Estávamos reunidos no segundo andar e havia lá muitas lâmpadas acesas. Um rapaz chamado Êutico, que estava sentado numa janela, adormeceu durante o longo sermão de Paulo e deixou-se cair. Foram encontrá-lo morto. Então Paulo desceu também, inclinou-se, abraçou o rapaz e disse: «Não se assustem que ele está vivo!» Paulo voltou para a assembleia, partiu o pão, comeu e ficou ainda a falar-lhes até de manhãzinha. Depois seguiu viagem. Quanto ao rapaz, saíram com ele vivo e ficaram todos muito encorajados.
Quanto a nós, fomos à frente viajando de barco até ao porto de Asso, pois tínhamos de esperar ali por Paulo. Ele dera-nos essas ordens, porque ia por terra. Quando se juntou connosco em Asso, recebemo-lo a bordo do navio e continuámos a viagem até à cidade de Mitilene. Saímos desse porto e no outro dia passámos perto da ilha de Quios. Levámos mais um dia até à ilha de Samos e outro até ao porto de Mileto. Paulo tinha resolvido não parar em Éfeso para não perder tempo naquela região, pois tinha pressa de chegar a Jerusalém, se possível, antes do dia de Pentecostes.
Enquanto estava em Mileto, Paulo mandou um recado aos presbíteros da igreja de Éfeso para se irem encontrar com ele. Quando lá chegaram, disse-lhes: «Bem sabem como passei todo o tempo que estivemos juntos, desde o primeiro dia em que cheguei à região da Ásia. Fiz o meu trabalho como servo do Senhor, com toda a humildade e com muitas lágrimas, nesses tempos difíceis que passei por causa dos judeus que se levantaram contra mim. Também sabem que fiz tudo para vos ajudar, pregando-vos o evangelho e ensinando publicamente, e de casa em casa. Tanto aos judeus como aos não-judeus mostrei com firmeza que deviam voltar-se para Deus e crer em Jesus, nosso Senhor. Agora vou para Jerusalém, obedecendo ao Espírito Santo, sem saber o que lá me vai acontecer. Sei apenas que o Espírito Santo me tem avisado, em todas as cidades aonde vou, que me esperam prisões e dificuldades. Mas para mim a minha vida não tem valor. O que interessa é que eu chegue ao fim da carreira e cumpra o ministério que o Senhor Jesus me deu, de dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
E agora sei que nenhum de vós, entre os quais andei a pregar o reino de Deus, me voltará a ver. Por isso, tomo-vos hoje por testemunhas de que se algum se perder, não sou eu o culpado, porque vos anunciei todo o plano de Deus sem vos esconder nada. Portanto, cuidem bem de vós e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos pôs como supervisores. Sejam pastores da igreja de Deus, pois ele adquiriu-a com o sangue do seu próprio Filho. Pois sei muito bem que, depois de eu partir, vão introduzir-se no vosso meio os que querem destruir a igreja, como os lobos ferozes destroem as ovelhas. Mesmo entre vós hão de aparecer alguns a ensinar doutrinas falsas, arrastando consigo os discípulos. Por conseguinte, estejam vigilantes. Lembrem-se de que durante três anos, de dia e de noite, nunca deixei de vos aconselhar, um por um, com muitas lágrimas.
E agora entrego-vos à proteção de Deus e à palavra da sua graça, palavra que tem poder para vos edificar e para vos dar a herança entre todos os santificados. Nunca cobicei de ninguém nem a prata nem o ouro nem o vestuário. Pelo contrário, sabem muito bem que trabalhei com as minhas próprias mãos para conseguir tudo aquilo de que eu e os meus companheiros precisávamos. Mostrei-vos em tudo que é trabalhando assim que podemos ajudar os necessitados e recordar estas palavras do Senhor Jesus: “É mais feliz quem dá do que quem recebe.”»
Quando Paulo acabou de dizer isto, ajoelhou-se com todos os irmãos e orou. Todos se puseram a chorar, abraçando e beijando Paulo. Eles estavam muito tristes por lhes ter dito que nunca mais o veriam. E acompanharam-no até ao navio.