(Elifaz)
Não há escapatória para os maus
1Elifaz de Teman respondeu então:
2«Quem é sábio não dá respostas ocas,
nem se alimenta de ideias vazias como o vento;
3não discute com argumentos sem força,
com palavras que não podem convencer ninguém.
4Tu destróis os sentimentos religiosos,
desprezas o espírito de oração.
5As tuas palavras aumentam mil vezes os teus crimes,
escolhendo argumentos astuciosos.
6A tua boca é que te condena e não eu;
as tuas palavras respondem contra ti.
7Pensas que foste o primeiro homem a existir,
que nasceste antes de existirem as montanhas?
8Estiveste presente quando Deus reuniu conselho,
para te apoderares da sabedoria?
9Que sabes tu que nós não saibamos?
Que sabedoria tens que nós não tenhamos também?
10Há entre nós quem tenha o cabelo branco
e seja mais velho do que o teu pai.
11Não aprecias que te confortem em nome de Deus
e te deem uma palavra de apoio?
12Que é que te tirou o entendimento?
Por que deixaram os teus olhos de ver as coisas
13e te voltaste assim contra Deus,
pronunciando palavras injustas?
14Como é que um homem se pode considerar inocente?
Como pode um simples mortal pensar que tem razão?
15Nem os seus anjos Deus considera absolutamente fiéis,
nem os céus completamente puros.
16Quanto mais detestável e corrompido lhe não parecerá
o homem que bebe maldade como quem bebe água?
17Ouve! Quero dizer-te uma coisa;
quero contar-te o que eu descobri,
18aquilo que os sábios transmitiram
e já os seus pais lhes tinham comunicado,
19aqueles que receberam de Deus o país,
sem que nenhum estranho lá ficasse com eles.
20Os maus passam a vida na angústia,
o tirano tem poucos anos para viver.
21Vozes de terror ecoam nos seus ouvidos;
quando está mais sossegado, cai sobre ele o ladrão.
22Não está seguro de voltar da escuridão;
há quem o espie para lhe dar a morte.
23Abandonado para alimento dos abutres,
ele sente que a escuridão da morte está perto.
24A angústia e a aflição aterrorizam-no,
apertam-no como um exército pronto a atacar,
25porque levantou a mão contra Deus,
desafiou o Todo-Poderoso.
26Atirava-se de cabeça contra Deus,
protegido atrás do seu forte e largo escudo.
27Pois protegeu-se com a sua gordura
e criou banhas sobre os rins.
28Habitava em cidades abandonadas,
em casas desabitadas,
que estavam prestes a cair em ruínas.
29Não será rico nem a sua riqueza se manterá;
os seus bens não chegam até ao sepulcro.
30Ele não escapará à escuridão;
os seus rebentos, seca-os o calor
e arranca-os o vendaval soprado por Deus.
31É para não se enganar, fiando-se em futilidades;
a sua vida é que será fútil.
32Vai acabar antes do tempo
e não voltará mais a reverdecer.
33Será como a videira que perde as uvas ainda verdes,
como oliveira que deixa cair a flor.
34O conluio dos ímpios ficará estéril,
o fogo devorará as suas casas, cheias de suborno.
35Trazem dentro de si a aflição e dão à luz a desgraça,
o que eles trazem no ventre é a desilusão.»