O Senhor fez-se inimigo de Jerusalém
(Álefe)
1Eis como o Senhor, na sua ira,
continua a cobrir Jerusalém de escuridão!
Deitou por terra o esplendor de Israel,
que se erguia para o céu;
no dia da sua ira, esqueceu-se
que Sião era o estrado para os seus pés.
(Bete)
2O Senhor destruiu sem misericórdia
as habitações do seu povo;
no auge da sua ira,
derribou as fortalezas de Judá;
deitou-as completamente por terra;
e destruiu o reino e os seus príncipes.
(Guimel)
3Na sua cólera intensa,
abateu o poderio de Israel.
E recusou-se a intervir,
quando apareceu o inimigo.
Consumiu o seu povo
como o fogo que tudo devora.
(Dálete)
4Qual inimigo, esticou bem o arco,
com a mão direita pronta a disparar;
comportou-se como nosso adversário,
destruindo o que mais estimávamos.
Qual fogo avassalador
pôs em escombros o templo de Jerusalém.
(Hê)
5Sim, o Senhor parecia nosso inimigo
quando aniquilou a Israel,
derribou os seus palácios
e deitou por terra as suas fortalezas;
e obrigou o povo de Judá
a gemer e a lamentar-se sem cessar.
(Vau)
6O seu templo ficou como um pomar devastado,
a sua sala de culto foi deitada por terra.
O Senhor fez com que se esquecessem
dos sábados e das festas de Sião.
No auge da sua ira,
repudiou o rei e os sacerdotes.
(Zaiin)
7O Senhor não quer mais o seu altar
e abandonou o seu santuário,
ao entregar nas mãos dos inimigos
as paredes dos palácios de Sião.
A algazarra que eles faziam no templo do Senhor era tanta
que até parecia um dia de festa.
(Hete)
8O Senhor decidiu destruir
os muros de Jerusalém.
Ele estendeu a linha de nivelar
e não parou de demolir.
Cobriu de luto as ameias e os muros
e ficou tudo destruído.
(Tete)
9Os portões caíram por terra;
os seus fechos foram despedaçados.
O rei e a corte foram presos pelos pagãos.
Reina a anarquia,
pois até os seus profetas
já não recebem mensagens do Senhor.
(Jode)
10Em silêncio sentam-se no chão,
os chefes de Jerusalém.
Deitam terra sobre as suas cabeças
e vestem-se de luto.
As jovens de Jerusalém andam pela rua
de cabeça baixa, envergonhadas!
(Cafe)
11Os meus olhos estão cansados de chorar,
e as minhas entranhas revoltam-se.
O meu desespero é imenso
por causa da ruína do meu povo.
Crianças e bebés morrem de sede
nas praças da cidade.
(Lâmede)
12As crianças pedem às mães:
«Não tens nada para eu matar a fome e a sede?»
Como feridas mortalmente, desfalecem
pelas praças da cidade,
soltando o último suspiro
ao colo das suas mães.
(Mem)
13Que mais te posso dizer, ó Jerusalém?
Não há desgraça igual à tua!
Que casos semelhantes te posso recordar,
para te poder confortar, ó jovem cidade de Sião.
A tua calamidade é tão grande como o mar.
Quem te poderá trazer a cura?
(Num)
14Os teus profetas dirigiram-te
mensagens enganosas e falsas.
Não desmascararam a tua maldade,
para que a tua sorte fosse diferente.
Pelo contrário, as mensagens que te dirigiam
só te atiravam terra aos olhos.
(Sâmeque)
15Aqueles que passam perto de ti
aplaudem a tua ruína.
Assobiam e abanam a cabeça
fazendo troça de ti, Jerusalém:
«Será esta, aquela cidade tão bela,
que era o orgulho de toda a terra?»
(Pê)
16Os que querem o teu mal
abrem a boca para te provocar.
Assobiam-te e mostram-te os dentes.
Dizem: «Dêmos cabo dela!
O dia que esperávamos há tanto tempo,
ele aí está finalmente!»
(Aiin)
17O Senhor fez o que tinha decidido
e cumpriu a ameaça,
que há muito tinha anunciado.
Demolindo assim sem piedade,
encheu o inimigo de alegria com a tua ruína
e fortaleceu o seu orgulho.
(Tsadê)
18Que os teus lamentos e gemidos, ó Jerusalém,
subam até ao Senhor!
Não cesses de chorar, dia e noite;
deixa correr as lágrimas como um rio.
Não procures reconfortar-te,
antes, dá largas ao teu pranto!
(Cofe)
19Levanta-te e enche a noite,
hora a hora, com os teus lamentos.
Abre inteiramente o teu coração
na presença do Senhor.
Estende para ele as mãos em súplica,
para que os teus filhos vivam,
eles que morrem de fome
às esquinas de todas as ruas.
(Reche)
20Olha, Senhor! Repara bem
a quem estás a tratar assim.
As mulheres chegaram ao ponto de comer
os filhos que elas geraram e criaram!
E os sacerdotes e profetas
foram mortos no teu santuário!
(Chim)
21Os jovens e os velhos
jazem lado a lado nas ruas.
Os meus filhos e filhas
caíram mortos à espada.
Mataste-os, dando largas à tua indignação,
dizimaste-os sem piedade.
(Tau)
22Convidaste aqueles que me eram hostis
como se se tratasse de um dia de festa.
Nesse dia, o teu furor fez-se sentir
e não houve sobreviventes, ninguém escapou.
Os filhos que eu eduquei e vi crescer,
foram exterminados pelo inimigo.