A música na Bíblia
Já ouviu falar da «parábola» de Elie Wiesel baseada na passagem de G
“Quando Jacob em fuga de Esaú, o irmão enganado, chegou a Betel teve uma visão: uma escada assentava na terra enquanto o topo alcançava o Céu, e os anjos de Deus subiam e desciam nela. Pois bem, no fim, os anjos esqueceram-se de retirar a escada e a escada ficou plantada na terra, e assim tornou-se a escala musical, cujas notas angélicas permitiam agora, a Deus descer e falar-nos e a nós, ascender ao céu para o alcançar.”
Foi com esta referência literária que a Prof. Doutora Elisa Bessa iniciou a sua comunicação na V Jornada: A Bíblia de Almeida, no ano passado, em Braga, sob o tema “A Música na Bíblia”.
“É certo que não foi assim que surgiram as notas musicais”, salientou a palestrante, mas, esta alegoria de uma “escala musical que nos eleva o espírito e nos leva ao alto, acaba por revelar “o laço existente entre a música e a fé, e como essa ligação se tornou uma constante para a experiência artística e religiosa”.
A investigadora da Universidade do Minho começou por apontar que, no Antigo Testamento, encontramos a referência a Jubal – o pai dos instrumentos musicais (Génesis 4:21
Ao ler as referências musicais do Antigo Testamento, percebemos que “a música tem o propósito de exaltar a história humana, revelando os atos divinos: a salvação e o juízo de Deus, no interior das vicissitudes humanas”. Segundo a palestrante, “na Bíblia encontramos: Cantos de guerra – o cântico de Moisés (Êxodo 15
Naturalmente, não é possível falar de música na Bíblia sem referir o Rei David, que nas várias confissões cristãs é tido como “um instrumentista com reconhecidos poderes curativos – e assim nasceu o princípio da musicoterapia”, concluiu a autora.
Ler os instrumentos que compõem a orquestra presente no Salmo 150
Mas, a Bíblia também demonstra a importância da música para os povos e as culturas do seu tempo. Como refere a Professora Elisa, vemos isso em Daniel 3:5,
De volta à reflexão da Professora Elisa é importante reconhecer, no Novo Testamento, a pessoa de Jesus como a figura central na justificação pela fé: o Messias - descendente do rei David, um pormenor que, “confere à produção poética e musical de David o seu cunho profético”. Segundo ela, os Salmos foram não apenas o repertório musical de Jerusalém até ao ano 70 d. C (data da sua destruição), como vieram a constituir “o mais importante núcleo textual do repertório cristão, associado à Igreja primitiva”. No entanto, como salienta a investigadora, há um forte contraste entre a música no Antigo e Novo no Testamentos. Neste último não há referência ao uso da música instrumental na adoração e nos atos de louvor. A passagem de Paulo e Silas que, à meia-noite, oravam e cantavam hinos a Deus, na prisão (Atos 16:25)
No entanto, em Apocalipse 5
Podíamos viver sem música, mas, certamente não era a mesma coisa, concluiu a palestrante. A seu ver a capacidade para a música é uma dádiva de um Deus criador e criativo: ajuda-nos a expressar as mais diversas emoções, e é um auxílio inquestionável à memorização (desde a tabuada, aos versículos da Bíblia). Entender o contexto da música, quando lemos a Bíblia dá-nos, segundo ela, uma “visão de aproximação ao criador”.
A professora Elisa, terminou a sua comunicação com uma citação de Cassiodoro, escritor cristão do Séc. IV que, segundo ela, “deixou-nos uma advertência: ‘Se continuarmos a cometer injustiças, Deus deixar-nos-á sem música’”.
Talvez Deus não nos retire a capacidade para a música, mas, certamente, que a injustiça e a opressão, retiram de nós a capacidade para a apreciar…