Sociedade Bíblica de Portugal

Ler em voz alta?

Ler é uma atividade fundamentalmente saudável. Pode prevenir o declínio cognitivo, melhorar o sono e reduzir a pressão arterial. Há estudos que comprovam que as pessoas que leem livros vivem mais tempo. Há milhares de anos que as pessoas compreendem intuitivamente os benefícios da leitura: a mais antiga biblioteca conhecida, no antigo Egito, tinha uma inscrição que dizia A CASA DA CURA PARA A ALMA.

Mas os antigos liam de forma diferente da que fazemos hoje. Até ao século X, aproximadamente, quando a prática de ler em silêncio se expandiu graças à invenção da pontuação, ler era sinónimo de ler em voz alta. A leitura silenciosa era, no mínimo estranha e, francamente, perdia o sentido da partilha das palavras para entreter, educar e criar laços. Mesmo no século XX, antes da rádio, da TV, dos smartphones e do streaming entrarem nas nossas salas de estar, os casais passavam o serão a ler em voz alta, um para o outro.

Mas o que os primeiros leitores ainda não sabiam era que a leitura verbal oferecia benefícios adicionais: melhorar o humor e a capacidade de memória do leitor, diminuir o stress dos pais, aumentar o carinho e fortalecer o vínculo afetivo com os filhos. Mas, para colhermos todos estes benefícios, devíamos fazê-lo sempre em voz alta, especialmente, com aqueles com quem nos relacionamos de perto.

Ler em voz alta é um processo cognitivo distinto, mais complexo do que ler em silêncio, falar ou ouvir, pois, segundo estudos realizados pela Universidade de Waterloo (Canadá), envolve operações diversas: controlo motor, audição e autorreferência (o facto de ter sido eu a dizer isto), as quais ativam o hipocampo - uma região do cérebro associada à memória. Em comparação com a leitura silenciosa, o hipocampo é mais ativo durante a leitura em voz alta, o que ajuda a explicar por que esta é uma ferramenta de memória tão eficaz. Na realidade, o facto de a pessoa falar e se ouvir contribui para fixar as palavras na memória a longo prazo. Ao adicionar ação a uma palavra, esta tende a tornar-se “mais distinta na memória a longo prazo”. Este envolvimento ativo entre a aprendizagem e a memória é extremamente benéfico, em todas as idades.

Foi também com o intuito de que fosse lida em voz alta que, João Ferreira Annes d’Almeida - o tradutor da Bíblia para a língua portuguesa nascido em Mangualde - com 16 anos apenas, iniciou a tradução à qual dedicaria 47 anos da sua vida, possivelmente movido pelo trabalho que desenvolvia entre as comunidades de falantes de português no Sudoeste da Ásia: Malaca, Batávia (Indonésia) e Ceilão (Sri Lanka), entre outras. O seu objetivo era “tornar a Bíblia acessível a todos quantos falam a língua portuguesa”, e o resultado é que a sua tradução da Bíblia se tornou na obra literária mais divulgada de sempre na língua portuguesa, com mais de 2000 edições e 150.000.000 exemplares impressos! 

Porque se trata da tradução da Bíblia mais amada pelos portugueses, e porque queremos dá-la a conhecer às novas gerações, estamos no processo de revisão deste texto centenário. Traduzido entre 1628-169, este texto não era alvo de uma revisão extensiva em Portugal há mais de 120 anos, apesar das atualizações ortográficas e de âmbito pontual feitas em 1940, 1968 e 2001.

A fim de envolver todos os que amam este texto, criámos os Grupos de Almeida, uma iniciativa na qual as igrejas se podem inscrever, de forma a participarem ativamente no processo de revisão.

As igrejas inscritas nos Grupos de Almeida, receberão a formação das Oficinas de Leitura num formato mais reduzido, para “aprenderem” como ler, e ouvir ler em voz alta, os livros de diversos géneros (narrativa, poesia, cartas, etc.) que compõem a Bíblia, e à medida que a revisão vai sendo concluída ajudar-nos a detetar quaisquer incoerências de linguagem, gralhas, etc. que ainda possam persistir.

Faça parte do processo de revisão da tradução da Bíblia de João Ferreira de Almeida!

Se gostava de organizar um Grupo de Almeida na sua igreja contacte-nos:

Simão Fonseca

Sociedade Bíblica de Portugalv.4.25.2
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