Sociedade Bíblica de Portugal

Na penumbra do presépio…

Há muito anos Nietzsche declarou: “Deus está morto”! Já muito se escreveu e discutiu sobre o significado desta sentença. Pelo que, não se pretende aqui recuperar ou reler a reflexão sobre o posicionamento da sociedade ocidental face às suas crenças e práticas religiosas, sobretudo no que diz respeito à fé cristã.  Antes, queremos deixar uma breve (e provocativa?) nota acerca do Natal como uma efeméride que, como sociedade, nos preparamos para festejar.

O advento, enquanto celebração do nascimento de Jesus, começou por ser uma festa que invocava a Vida. Com mais ou menos posses, com mais ou menos criatividade, com mais ou menos tradição, ao longo dos séculos os povos cristãos preparavam-se afincadamente e viviam solenemente a celebração da divina natividade. Ao ponto de, no decorrer da primeira guerra mundial, alguns soldados (alemães e britânicos) comprometeram-se a fazer uma trégua (não oficial) nesta época, em especial na noite e no dia de Natal. Porém, na passagem do tempo, tanto a secularização cultural como a instrumentalização comercial além de usurparem o lugar e a atenção dispensada ao aniversariante, estão a transformar a milenar e divina narrativa na mais mágica cronografia da nossa contemporaneidade. Se outrora a escola de Hollywood e a mítica figura do Pai Natal disputaram com o Menino Deus o papel principal desta história, agora veio para ficar a escola de feiticeiros e a mais mágica de todas as personagens do presépio publicitário: a bruxa do Halloween! De todas as criaturas feitas heróis, esta era a última que esperávamos ver encarnar no universo natalício. Contudo, qual guião da Marvel, os mais recentes spots publicitários oferecem-nos o mais inocente de todos os crossovers: oriundos de universos distintos, a bruxa de Halloween e o Pai Natal, qual José e Maria encontram-se para disputar um lugar no presépio mágico. Tudo isto, sob a luz que irradia da nova estrela natalícia.

A par do lado irónico e cómico, de colocar a personificação da morte a celebrar a vida, poderíamos, mas não temos tempo para discutir aqui a narrativa pós-cristã da natividade: “Deus morreu, mas o Natal não está morto! Bem pelo contrário! Até a morte o celebra e recomenda!” Cabe-nos, contudo, observar e refletir (e por que não denunciar) sobre esta «não inocente» produção da invisibilidade do primeiro Natal! A par da sociedade, e ocupados com a decoração das nossas casas, com o recheio das respetivas mesas e com a compra dos presentes, como cristãos, inconscientemente também podemos contribuir para que, neste aniversário, o aniversariante seja remetido para a escuridão criada e, obscurecido, sobreviva na sombra até deixar de ser percebido.

Independentemente da quantidade de presentes, da qualidade das nossas decorações e iguarias, da fama dos nossos convidados, que O Emanuel, o menino Deus que nos nasceu e habitou a nossa terra (cf. Isaias7,14; 9,6), nunca deixe se ser a razão dos nossos festejos e o centro da nossa celebração! Como disse C. S. Lewis: “o Filho de Deus tornou-se homem para possibilitar que os homens se tornem filhos de Deus!” (Mere Christianity)

um Santo e bem-iluminado Natal!

Simão Fonseca

Sociedade Bíblica de Portugalv.4.18.12
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