Não havia lugar…
O tempo passa e para o assinalar, continuamos a acender novas e mais luzes que pretendem, entre outras coisas, trazer à memória o espectro brilhante da milenar estrela de Belém. Todavia, de forma desconcertante e inesperada, a narrativa da natividade diz-nos que não havia no local alojamento disponível para Jesus (Cf. Lc 2,7). Surpreendentemente, ou não, o Natal de 2024 ficará, histórica e mediaticamente marcado pelos rastros dos misseis que cruzam os nossos céus. O cântico dos anjos e o anúncio da Vida é agora substituído por zumbidos estridentes que trazem consigo o pronuncio de morte e destruição.
Tudo isto porque, à imagem daquele tempo, além do parque hoteleiro esgotado, é possível que possamos permanecer no mesmo equívoco: tal como a cidade de Belém, continuamos lotados, sem espaço para o Menino! Individual ou coletivamente, mantemo-nos cheios e sem vontade de nos esvaziarmos de forma a encontrar entre nós algum espaço que, por mais pequeno, possa acolher o Outro!
Mas Natal são boas notícias! Embora sem casa, sem quarto, sem acolhimento, carência alguma foi suficiente para impedir a dádiva do primeiro Natal. E é nessa Esperança que, independentemente do tamanho das nossas casas, da quantidade de cómodos e do espaço ocupado… à imagem daquele tempo, também podemos deixar-nos desafiar pelo exemplo dos anónimos que, alguns dias depois, providenciaram um lugar para o recém-nascido! Embora desconhecida, tornou-se instrumento para adoração, pois nela os magos entraram “…viram o menino com Maria, sua mãe, e inclinaram-se para o adorar.” (Mt 2,11)
Mais ou menos anónimas, que as nossas casas possam ser casas de adoração, porque, ainda que tenhamos de as esvaziar de alguma coisa, nelas haverá um lugar para o Deus que se fez menino!
Um Santo Natal!