O que pensava Jesus sobre as mulheres
Como é que a Bíblia vê as mulheres? À primeira vista, algumas das suas mensagens e exemplos podem parecer opressivos ou depreciativos. Mas, ao aprender mais sobre como Jesus respondeu ao contexto histórico e cultural do seu tempo, podemos reavaliar as nossas impressões. Jesus, ao vir a este mundo, entrou num tempo e cultura específicos que tinham pressupostos muito diferentes dos nossos. De que forma a compreensão do contexto bíblico pode informar a nossa leitura? Pode o contexto ajudar-nos a entender melhor quem é Jesus — o que ele valoriza, ama e espera dos seus seguidores? Vamos recuar um pouco, até à cultura onde Jesus entrou.
Como é que os gregos viam as mulheres
Comecemos pelos filósofos. São os escritores e os pensadores quem, muitas das vezes, infunde determinadas crenças numa cultura. No mundo greco-romano, era assim que acontecia e, algumas das suas ideias, hoje parecem surpreendentemente antiquadas.
Por exemplo, o reverenciado filósofo Platão acreditava que as mulheres deviam de estar confinadas ao lar, enquanto os homens cuidavam dos negócios do Estado e do comércio. Aristóteles foi ainda mais longe, e ensinava que as mulheres eram inferiores aos homens, incapazes de pensamento abstrato e emocionalmente instáveis. Por essa razão, os maridos e os pais deviam governar as suas esposas e filhas. Este pensamento reflete a atitude básica em relação às mulheres, durante o período clássico.
De que forma estas atitudes afetavam a vida de uma mulher? A imagem não é bonita. Uma jovem grega, geralmente, era casada com um homem mais velho. O seu marido era livre para ter uma concubina, e o amor romântico não era esperado no casamento. O seu papel era gerar e criar filhos e administrar a casa. Raramente saía de casa e a sua educação limitava-se a aprender as tarefas domésticas. Não tinha permissão para votar, nem possuir propriedades. Porque haveria de ter? Como observava o dramaturgo Eurípides, “uma mulher é deficiente pelo intelecto” e, Tucídides, o historiador, ajuda-o ao acrescentar: “O nome de uma mulher decente, bem como a sua pessoa, deve ser trancado em casa”.
Como os judeus viam as mulheres
No tempo de Jesus, as ideias gregas –
incluindo as ideias sobre as mulheres – tinham-se infiltrado gradualmente na
cultura judaica, apesar dos escritos do Antigo Testamento dizerem o contrário.
No relato da criação em Génesis, Deus cria os seres humanos como macho e fêmea,
dando-lhes igual estatuto de mordomia sobre a terra (Génesis 1,26-30). Ao longo
do Antigo Testamento, as mulheres têm igual acesso à lei de Deus e são
igualmente responsáveis por cumpri-la.
Os registos do Antigo Testamento estão repletos de mulheres cuja grande coragem
superou, muitas das vezes, a dos homens ao seu redor. As histórias de Míriam,
Raab, Rute, Débora, Ana, Abigail e Ester são excelentes exemplos de mulheres
cuja perspicácia e coragem influenciaram grandemente a narrativa bíblica e a
maneira como o povo de Deus se via a si próprio.
A opinião judaica sobre as mulheres foi tão afetada pelo exílio, pela sujeição a outros povos e pelo comércio que, no tempo de Jesus, as mulheres eram desencorajadas a estudar a Torá – a lei de Deus, e a ficarem em casa para cumprir as tarefas domésticas. Frequentavam as assembleias da sinagoga, mas sentavam-se separadamente dos homens. O filósofo judeu Fílon de Alexandria, educado na Grécia, contemporâneo de Jesus, via as mulheres como alguém com um julgamento fraco e considerava-as inadequadas para aprender a lei. Alguns rabinos chegaram a ponto de encorajar os homens a limitar as conversas com as suas próprias esposas. Para quê falar com alguém com tão pouco conhecimento acerca da lei?
Como é que Jesus via as mulheres
No meio de toda a distorção da intenção original de Deus para as mulheres surge um novo mestre, o rabino chamado Jesus de Nazaré. O que sabemos sobre o relacionamento de Jesus com as mulheres? Será que partilhava das opiniões da sua cultura? Vamos ver alguns dos seus encontros com mulheres.
Jesus fala com uma mulher samaritana em público
(João 4,4-30)
Jesus choca a mulher junto ao poço, ao
pedir-lhe de beber. Ao fazê-lo, passa por cima dos tabus culturais sobre os
homens que falam com mulheres, bem como, do preconceito judaico contra os
samaritanos. “Mas como é que tu, um judeu, te atreves a pedir-me água a mim que
sou samaritana?”
Então, Jesus revela-se a ela como o Messias, e aquele que lhe pode dar a água
viva da qual ela tanto anseia
Jesus ensina uma mulher presencialmente
(Lucas 10,38-42)
Não se esperava que as mulheres estudassem
a Torá, porém, este rabino renegado escolhe uma mulher e abre as Escrituras
para ela. Maria, “…que se sentou aos pés do Senhor para o ouvir.” Esta posição
era a do estudante rabínico tradicional.
Quando a sua irmã reclamou que precisava de ajuda, Jesus disse-lhe que “Maria escolheu
a melhor parte que não lhe será tirada.”
Jesus conforta uma viúva e afronta a morte
(Lucas 7,11-17)
“Não chores”, disse Jesus a uma viúva enlutada, cujo filho jazia morto no caixão. Depois, toca no caixão desafiando as leis cerimoniais, e os queixos caem de espanto quando o jovem se senta e começa a falar. Jesus devolve o filho à viúva, vivo e de saúde.
Jesus toca numa mulher “impura”
(Lucas 8,43-48)
Cerimonialmente impura devido a uma hemorragia crónica, a mulher toca na ponta do manto de Jesus. “Minha filha,” diz-lhe Jesus ternamente, “a tua fé te salvou. Vai em paz.”
Jesus cura uma mulher enferma
(Lucas 13,10-16)
Os líderes religiosos objetaram o facto de
Jesus impor as suas mãos sobre uma mulher doente e encurvada, e curá-la num dia
de Sábado.
“Hipócritas!” Jesus não mede as palavras. “Haverá alguém que ao sábado não
desprenda da manjedoura o boi ou o burro, para o levar a beber? Ora esta
mulher, que também pertence ao povo de Abraão, estava presa por Satanás há
dezoito anos. Por que motivo não havia ela de ficar livre da sua doença, embora
seja sábado?»”
Jesus lida com uma mulher apanhada em adultério
(João 8,1-11)
Os acusadores da mulher foram silenciados pelas palavras de Jesus, «Aquele de entre vós que nunca pecou, atire-lhe a primeira pedra.», mas ele é gentil ao conversar com ela.
Jesus permite que Maria o unja (Mateus 28,11-13)
As pessoas ficam horrorizadas com a
expressão de amor extravagante de Maria, mas, Jesus silencia-as a todas.
Em vez de a repreender por lhe ter tocado de forma tão íntima, elogia-a. ”
Deixem-na em paz! Isto que ela fez serve para o dia do meu enterro. […] E
fiquem sabendo que em qualquer parte do mundo onde esta boa nova for pregada,
será contado o que acaba de fazer…”
Depois de ressuscitar, Jesus aparece primeiro a uma mulher (João 20,11-18)
Embora as mulheres não fossem consideradas testemunhas fiáveis em tribunal, Jesus atribui a Maria Madalena a tarefa de ser a primeira testemunha da Ressurreição.
As Boas Novas das Escrituras para mulheres
Então, o que Jesus pensava realmente acerca
das mulheres? Ele tocou-as? Conversou com elas? Ensinou-as? Deu-lhes estatuto
moral igual aos homens? Valorizou-as?
Os registos falam por si. As mulheres do primeiro século, na Palestina, eram
cidadãs de segunda classe. Mas, Jesus derrubou a cultura do seu tempo, e o seu
exemplo chama-nos a fazer o mesmo. Jesus afirmou o valor e a dignidade das
mulheres, repetidas vezes.
Como o apóstolo Paulo afirma em Gálatas 3,26-28: “Pois pela fé que vos une a
Jesus Cristo são todos filhos de Deus. Com efeito, todos os que foram batizados
em Cristo revestiram-se das qualidades de Cristo. Não há diferença entre judeus
e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homem e mulher. Agora
constituem um todo em união com Cristo Jesus.”
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