Sociedade Bíblica de Portugal
11/8/2020

Uma boa palavra

A Bíblia diz que “a preocupação deprime o coração do homem, mas uma boa palavra dá-lhe alegria.” (Provérbios 12,25). Devido à pandemia, nos últimos meses vivemos dias de grande preocupação. Seja pelo temor de ficar infetado pelo coronavírus, seja pelo receio de perder o emprego, seja até pelo simples sentimento de insegurança inerente à escolha de um destino seguro para as férias – que agora, significa garantir a higienização do local e o famigerado distanciamento social. Todavia, apesar das preocupações que têm tomado conta dos nossos pensamentos e decisões, queremos deixar uma boa Palavra a todos os que estão (ou ainda vão) de férias: que Deus vos dê descanso! Contudo, à imagem do Deus que descansou (Génesis 2, 1-3), não podemos deixar de referir que este «repouso» não se reduz à «suspensão» da atividade laboral. Trata-se de uma paragem com dois propósitos (entre outros que não vamos aqui abordar).

Em primeiro lugar, perante um Deus que parou (e que nos manda parar Êxodo 20,9,10) o ato de repouso deve ser visto como um ato de liberdade e a consagração de um tempo para nós mesmos. Significa não ficar cativo da opressão do tempo e da ansiedade por produzir. Se, por um lado, esta paragem liberta-nos da hiperatividade escravizante, por outro, o tempo para nós concede qualidade e dignidade à nossa existência. Em segundo lugar, a paragem tem em vista a contemplação como um exercício de enriquecimento pessoal e social. Note-se que, além de consagrar o descanso, Deus também passeia no jardim (Génesis 3,8) dando-nos conta de um tempo destinado à contemplação: da natureza e do outro. Além da serenidade e tranquilidade que advêm de uma experiência de satisfação revelada no detalhe da descrição primorosa da brisa vespertina, a constatação de que Deus passeia em direção a Adão sugere a reprodução de um tempo para o outro (família, amigos).

Saber descansar é uma arte bíblica e um instrumento de desenvolvimento humano. Como arquétipo da vida humana, a paragem de Deus deveria servir-nos como uma pedagogia do tempo. No mínimo, que ela possa inspirar o modo como investimos no nosso repouso. Enquanto criação sua, honrar a paragem é, também, prestar honra ao Deus que parou.

Mais do que descansar trata-se de uma busca de sentido e qualidade de vida. Dito de outra forma, é aquietar o espírito exposto à hiperexcitação da sociedade e cultura mediática e direcioná-lo, também, para a indagação dos mistérios da vida procurando na contemplação (de Deus e da criação) a plena realização humana.

Num tempo em que somos desafiados a personalizar a casa, o carro, o vestuário, o telemóvel, etc. ousemos personalizar as nossas férias como um tempo onde, com Deus, somos para nós e para os outros que Ele colocou ao nosso lado, neste indiscritível jardim à beira-mar plantado.

Simão Silva, Sociedade Bíblica

Sociedade Bíblica de Portugalv.4.17.10
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