Sociedade Bíblica de Portugal

14 – A história de José – JOGOS MENTAIS

ORAÇÃOSabes como me sinto hoje, Senhor, quando venho passar tempo contigo. Por favor, abre o meu coração às coisas que queres que eu saiba.

Texto(s) bíblico

Benjamim vai ao Egito com os irmãos

1A fome no país era cada vez mais dura. 2E quando acabaram de comer todos os mantimentos que tinham levado do Egito, Jacob disse aos seus filhos: «Vão outra vez ao Egito para ver se conseguem arranjar alguma coisa para comermos.» 3Mas Judá respondeu: «Aquele homem avisou-nos muito severamente que não fossemos outra vez ter com ele sem levarmos o nosso irmão connosco. 4Portanto, se deixas ir o nosso irmão connosco, nós vamos comprar mantimentos para ti. 5Mas se não deixares, não vamos, porque aquele homem nos avisou que não fossemos mais ter com ele sem levarmos connosco o nosso irmão.»

6Israel respondeu: «Por que é que foram dizer a esse homem que tinham mais um irmão? Causaram-me um enorme prejuízo!» 7Mas eles responderam: «Foi aquele homem que nos interrogou sobre a nossa família. Perguntou se o nosso pai ainda estava vivo e se tínhamos mais algum irmão. Nós não fizemos outra coisa senão responder às perguntas que nos fez. Como íamos nós adivinhar que ele nos iria exigir que levássemos lá o nosso irmão?»

8Judá pediu a Israel, seu pai: «Deixa ir o menino comigo. Só assim podemos pôr-nos a caminho, para podermos sobreviver e não morrer de fome, tanto nós como tu como as nossas crianças. 9Eu assumo a responsabilidade por ele e podes pedir-me contas, se alguma coisa acontecer. Se eu não o trouxer de novo à tua presença, considero-me culpado diante de ti por toda a minha vida. 10E se não nos tivéssemos demorado aqui tanto tempo, já tínhamos ido e voltado duas vezes.»

11Israel, seu pai, respondeu-lhes: «Sendo assim, façam da seguinte maneira: levem nos vossos sacos os melhores produtos que temos no país e ofereçam um presente a esse homem. Podem levar bálsamo, mel, aromas, ládano, pistácios e amêndoas. 12Levem o dobro do dinheiro mais o outro dinheiro que vos foi restituído e que vinha nos vossos sacos, porque podia ter sido por engano. 13Levem também o vosso irmão e vão outra vez ter com esse homem! 14Que o Deus supremo faça com que esse homem tenha compaixão de vós e deixe vir o vosso irmão assim como Benjamim. E se eu tiver de ficar sem os filhos, paciência!»

15Eles arranjaram então os presentes e puseram-se a caminho do Egito, levando consigo o dobro do dinheiro; Benjamim foi também com eles. Quando se apresentaram a José 16e este viu que Benjamim também tinha vindo com eles, disse ao seu mordomo: «Leva estes homens para o meu palácio; mata um animal e prepara-o, porque hoje ao meio-dia eles serão meus convidados para almoçar!»

17O mordomo fez exatamente o que José tinha ordenado e levou aqueles homens para o palácio de José. 18Ao verem que eram conduzidos para o palácio de José, começaram a ficar com medo e diziam uns para os outros: «É por causa do dinheiro que nós encontrámos nos sacos na vez passada. Isto é para nos acusar e nos condenar, para fazer de nós seus escravos e ficar com os nossos burros.» 19Por isso, à entrada do palácio de José, aproximaram-se do mordomo para falar com ele 20e disseram-lhe: «Por favor, meu senhor! Da primeira vez que viemos ao Egito comprar trigo, 21quando já íamos de regresso chegámos à estalagem onde pernoitámos, fomos abrir os nossos sacos e cada um encontrou lá dentro o seu dinheiro inteirinho. Mas agora trouxemos esse dinheiro 22e ainda outro tanto para o trigo que precisamos de comprar. Não sabemos quem é que pôs o dinheiro nos nossos sacos.»

23O mordomo respondeu-lhes: «Estejam calmos! Não tenham medo! O vosso Deus e Deus do vosso pai é que deve ter colocado esse tesouro nos vossos sacos, porque o vosso dinheiro recebi-o eu.» Depois o mordomo libertou Simeão e levou-o para junto deles. 24O mordomo conduziu-os então para o palácio de José, ofereceu-lhes água para lavarem os pés e deu forragem aos seus burros. 25A seguir eles prepararam os seus presentes, enquanto esperavam pelo meio-dia, hora a que José chegaria, pois já lhes tinham dito que iriam almoçar ali.

26Quando José chegou a casa, eles apresentaram-lhe os presentes que tinham trazido e inclinaram-se até ao chão. 27Depois de os ter saudado, perguntou-lhes: «Como é que está o vosso velho pai de que me falaram? Ainda vive?» 28Eles responderam: «O nosso pai ainda vive e está bem.» E voltaram a inclinar-se em sinal de respeito.

29Olhando à sua volta José viu Benjamim, seu irmão tanto por parte do pai como da mãe, e perguntou; «É este o vosso irmão mais novo de que me falaram?» Depois acrescentou: «Que Deus te abençoe, meu filho.» 30José ficou tão profundamente emocionado com o seu irmão que sentiu necessidade de chorar. Por isso, retirou-se rapidamente para o seu quarto e pôs-se a chorar. 31Quando viu que já conseguia conter-se, lavou a cara, saiu e ordenou: «Sirvam o almoço.»

32Foi servido o almoço para José, numa mesa; para eles noutra, e para os egípcios que comiam no palácio de José, noutra. De facto, os egípcios não podiam comer com os hebreus; a sua religião proibia-lhes isso.

33Os irmãos de José sentaram-se em frente dele por ordem de idades, desde o mais velho ao mais novo, e olhavam uns para os outros muito surpreendidos. 34José mandou que lhes servissem comida da sua própria mesa e a porção servida a Benjamim era cinco vezes maior que as de todos os outros irmãos. E eles fizeram festa com ele e beberam à vontade.

José sujeita os irmãos a outra prova

1José ordenou ao seu mordomo: «Enche de trigo os sacos destes homens, até estarem bem cheios, e coloca o dinheiro de cada um na boca do seu saco. 2E coloca a minha taça de prata na boca do saco do mais novo, junto com o dinheiro que ele trouxe para o trigo.» E o mordomo fez como José lhe tinha ordenado. 3Ao raiar da manhã, os irmãos obtiveram licença para poderem sair com os seus burros. 4Quando apenas tinham saído da cidade e não estavam ainda muito longe, José disse ao seu mordomo: «Corre depressa atrás desses homens e, quando os alcançares, diz-lhes: “Por que é que me pagaram o bem com o mal? 5Roubaram a taça de que o meu amo se servia para beber e para praticar adivinhação. Vocês praticaram uma ação muito má.”»

6O mordomo chegou ao pé deles e repetiu exatamente aquelas palavras. 7Eles responderam-lhe: «Como é que o senhor pode dizer uma coisa dessas? Longe de nós fazer uma coisa assim! 8Lembre-se que até trouxemos de Canaã o dinheiro que tínhamos encontrado na boca dos nossos sacos para lho restituirmos. Como é que nós íamos agora roubar de casa do seu amo prata ou ouro? 9Se algum de nós tiver essa taça, seja condenado à morte. E todos nós ficaremos a ser seus escravos.»

10O mordomo respondeu: «Está bem. Vamos fazer assim! Aquele que for encontrado de posse da taça ficará a ser meu escravo, mas os outros ficam livres.» 11Cada um deles se apressou a colocar os seus sacos no chão e cada um abriu o seu. 12O mordomo começou então a revistá-los, desde o mais velho ao mais novo, e encontrou a taça no saco de Benjamim.

13Diante disto, eles rasgaram as roupas em sinal de tristeza, carregaram cada um o seu burro e voltaram para a cidade. 14Judá e os seus irmãos dirigiram-se para o palácio de José, o qual se encontrava ainda lá, e inclinaram-se diante dele até ao chão.

15José perguntou-lhes: «Que é que me fizeram? Não sabiam que um homem como eu consegue adivinhar tudo?»

16Judá respondeu: «Que podemos nós dizer-lhe, meu senhor? Como é que podemos provar-lhe que estamos inocentes? Deus descobriu a nossa culpa. Estamos dispostos a ficar seus escravos, nós e aquele que levava consigo a taça.»

17José respondeu: «De maneira nenhuma farei uma coisa dessas. Só aquele que levava consigo a minha taça é que ficará a ser meu escravo, e vocês podem ir tranquilamente ter com o vosso pai.»

18Mas Judá aproximou-se mais dele e disse-lhe: «Por favor, meu senhor. Permita que este seu servo pronuncie uma palavra diante de si e não se irrite contra mim, pois o senhor é como se fosse quase o faraó. 19O meu senhor tinha perguntado a estes seus servos se tínhamos ainda pai e mais algum irmão. 20Nós respondemos ao meu senhor que tínhamos pai, já velho, e um irmão mais novo, nascido quando o pai já era de idade avançada. O seu outro irmão, filho da mesma mãe, morreu e ficou só este, de modo que o pai está muito afeiçoado a ele. 21Mas o meu senhor disse a estes seus servos: “Tragam-mo cá que eu quero vê-lo.” 22Nós bem dissemos ao meu senhor que o menino não podia sair de junto do pai, porque se saísse de junto dele o pai morreria. 23Mas o meu senhor insistiu dizendo: “Se o vosso irmão mais novo não vier convosco, não poderão voltar mais a aparecer diante de mim.” 24Por isso, fomos ter com o nosso pai e servo de vossa senhoria e transmitimos-lhe as suas ordens.

25Quando o meu pai nos disse: “Vão ao Egito e comprem alguns mantimentos”, 26nós respondemos: “Não podemos apresentar-nos mais diante daquele senhor se o nosso irmão mais novo não for connosco.” 27Foi então que o nosso pai e servo de vossa senhoria nos disse: “Sabem bem que a mãe do meu filho Benjamim só me deu dois filhos. 28Um deles saiu um dia de casa e nunca mais o vi. Penso que certamente uma fera o terá devorado. 29Se me levam agora também este para longe de mim e lhe acontece qualquer desgraça, vão fazer com que este velho morra de tristeza.”

30Por tudo isto, se agora voltamos para junto do nosso pai sem levarmos o rapaz connosco, o nosso pai, que está tão apegado ao rapaz, 31morre de desgosto quando vir que ele não volta connosco. E nós vamos obrigar o nosso velho pai a morrer de tristeza.

32Foi por isso que eu me ofereci para ficar responsável pelo menino diante do meu pai e lhe disse: “Se não to trouxer de novo, assumo essa responsabilidade diante de ti, por toda a minha vida.”

33Por conseguinte, meu senhor, peço-lhe que me deixe ficar a mim como seu escravo, para que este rapaz possa voltar para casa com os seus irmãos. 34Como é que eu posso ir ter com o meu pai sem levar o rapaz? Não quero ver a tristeza que se abateria sobre o meu pai.»

REFLEXÃO

José resistiu ao mal no passado (39:10), mas, esta tentação era demais. Afinal, todos os irmãos fizeram o mesmo, deve ter sido difícil conter-se. “Atirem-me para o fosso! Despachem-me rio abaixo! Destruam a minha vida! Tudo bem, mas, agora, vamos ver se vocês gostam do sabor do vosso próprio veneno!” José, agora, tinha poder para esmagar os seus irmãos desesperados. Mas não o fez — e vale a pena saber porquê.

Não costumamos pensar na ira como uma tentação. Na verdade, a ira não é má em si. Estar zangado faz parte de ser humano. Até Jesus se zangou (João 2:12-17). Mas, a ira pode levar-nos a reagir de formas erradas com aqueles que nos ofendem. “Sim, estou zangado… mas ele mereceu-o!”, contudo, duas coisas erradas não fazem uma certa. É por isso que a Bíblia diz: “Se porventura se irritarem contra alguém, não lhe façam mal” (Efésios 4:26; Salmos 4:4).

José ganha tempo a fazer jogos mentais com os seus irmãos. Pergunta-lhes acerca do pai, esconde uma taça de prata nos sacos deles e alinha-os por ordem de nascimento. Alguns podem criticá-lo por não os ter deixado logo ir. Mas, a vida real não é assim. Algumas mágoas são tão profundas, que é preciso tempo e uma pressão gradual da parte de Deus para que subam à superfície. Se estás a sentir pressão ou mesmo raiva acerca de coisas do teu passado, talvez Deus esteja a tentar dizer-te alguma coisa. Uma das melhores reações que pudemos ter, à raiva causada pelo passado é orar.

Mas, o motivo principal pelo qual José não acabou com os seus irmãos, foi porque os amava. Por vezes, descobrimos que sob os nossos sentimentos de raiva, está um profundo amor. Por isso, reagir violentamente, é o pior que podemos fazer quando estamos zangados. José, de forma sensata, procura um lugar onde possa chorar (43:30). Sentir verdadeira tristeza, por causa de mágoas do passado, é um passo essencial no processo de cura que Deus usa para suavizar os nossos corações endurecidos. José e os seus irmãos acabariam, eventualmente, por se perdoar e reconciliar. Mas ainda não tinha chegado o momento. Fica atento.

APLICAÇÃO

Existem mágoas por resolver no teu passado? Precisas de encontrar um lugar privado para chorar e orar?

ORAÇÃO

Pai, não me quero agarrar aos meus sentimentos de raiva, mas, preciso da tua ajuda. Senhor, sei que magoei outras pessoas com as minhas atitudes. Mostra-me como posso ajudá-las a encontrar cura também.

Sociedade Bíblica de Portugalv.4.18.8
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